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sexta-feira, 21 de outubro de 2022

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Renascence"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Renascence”,
de Rocío Bueno
Encontros da Imagem 2022
Museu D. Diogo de Sousa
17 Set > 30 Out 2022


Verdadeiro marco na edição deste ano dos Encontros da Imagem de Braga, “Renascence”, da autoria de Rocío Bueno, é uma homenagem à vida e obra da poetisa lírica e dramaturga americana Edna St. Vincent Millay. Através de um conjunto de imagens de enorme beleza e significado, a fotógrafa propõe-nos uma abordagem intimista ao universo de uma das poetisas mais influentes do século XX, primeira mulher a ser galardoada com o Prémio Pulitzer para Poesia, no já distante ano de 1923. Mas não terá sido apenas a poesia de Millay a atrair a atenção de Rocío Bueno, levando-a a aproximar-se dela com tanta emoção. A forte personalidade da escritora e a sua forma livre e directa de confrontar uma sociedade mergulhada em paradoxos e contradições, cavou um fosso profundo entre ela e as mulheres do seu tempo. Tal como a sua poesia, as leituras e performances fascinantes, posições políticas progressistas, luta pela igualdade de género e bandeira de novos tipos de experiência e expressão feminina granjearam a Millay a notoriedade e o respeito de muitos dos seus contemporâneos, servindo de inspiração para o trabalho da fotógrafa

Redescobrir Edna St. Vincent Millay através de um olhar contemporâneo, operando um diálogo entre a sua obra poética e as imagens que a mesma suscita, tal é o ponto de partida de “Renascence”. Ao abraçar, íntima e livremente, tão singular exercício de identificação, Rocío Bueno decide falar tanto da poeta como de si própria, retratando “esse espírito rebelde, transgressor, livre e desafiante, mas também vulnerável e sensível”, com o qual pretendeu conectar-se. O trabalho é inspirado e construído a partir de uma seleção de poemas de Millay que lhe oferecem uma estrutura silenciosa. As imagens compõem uma história imaginada, misturando realidade e ficção em dois mundos paralelos que se entrelaçam de forma subtil. A infância, a relação com a mãe, a criação artística, a vida livre e boémia, a independência, o amor sem género, o casal, o ser ou não ser mãe, o corpo, a dor e a natureza, são matéria latente numa história em que a fotógrafa veste a pele da poetisa e se lança em busca da sua própria força, criatividade e liberdade.

Não é raro que a leitura de um poema nos leve por paisagens que pudemos associar à fotografia ou que uma fotografia seja entendida como um verdadeiro poema visual. “Eternizar o momento que passa” é, para Mário Quintana, função tanto do poeta como do fotógrafo. Fotógrafos e poetas têm assumido essa relação de forma plena, o trabalho conjunto de Man Ray e Paul Éluard (“Facile”, 1935) permanecendo como um dos mais destacados momentos desta associação entre as duas formas de arte. É isto que Rocío Bueno explora neste seu projecto, que não se resume ao conjunto de imagens expostas, antes ganha outra espessura com a publicação de um livro de fotografia com o mesmo nome da exposição e, no qual, imagem e palavra se misturam e confundem em páginas sublimes que nos transportam ao lugar dos sonhos. Convite à exploração de ficções que podem ser vividas e, em simultâneo, uma inspiração no caminho de cada um, “Renascence” é o tempo mágico de um poema, congelado na magia de um clique. O ponto mais alto dos Encontros deste ano, uma exposição absolutamente imperdível.

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