O Hansborough Recreation Center, no coração do Harlem, em Nova Iorque, é o ponto de encontro dos “Harlem Honeys and Bears”, equipe de natação sincronizada fundada em 1979. Com idades compreendidas entre os 58 e os 95 anos de idade, os elementos da equipa são todos de raça negra e treinam para competições municipais e estaduais, nas quais participam regularmente. É lá que apresentam as mais graciosas e complexas coreografias, em particular a icónica e exclusiva “pirâmide”, ponto alto da sua performance, ao som de Vangelis e do épico “Chariots of Fire”. Longe vai o tempo da segregação racial, que os mais velhos recordam com amargura. Nessa altura, o acesso às piscinas apenas era permitido nos chamados “dias coloridos” ou nos dias em que estas eram esvaziadas para os brancos nadarem. A uns diziam que não conseguiriam flutuar devido à composição dos seus ossos; às meninas lembravam-lhes que saía caro alisar os cabelos naturalmente crespos depois de molhados. Afastadas as sombras do passado, é com leveza e entusiasmo que, três vezes por semana, deslizam para dentro de água e mostram o quão jovens se sentem. A sua alegria é contagiante. A sua vitalidade é inspiradora.
Interessada em mostrar de que forma se tornam em realidade os sonhos mais improváveis, a escritora e fotógrafa freelancer Laure Andrillon dá-nos a ver “Fountain of Youth”, projecto documental que faz da piscina um lugar de cura física e psicológica. Descontraídos nas suas conversas e brincadeiras ou concentrados naquilo que o treinador tem para lhes dizer, de touca às pintinhas cor de rosa ou com o cabelo solto e escorrido, prontos a saltar para a água para umas voltas de aquecimento ou ensaiando pequenas coreografias, eles são a prova provada de que não há barreiras intransponíveis. Não importa a idade, o grau de incapacidade ou a intensidade do desafio, todos desempenham um papel importante no seio do grupo. Dentro de água, os pontos fracos esbatem-se e a força do colectivo afirma-se sobre todas as coisas. Na expressão de cada um avulta o prazer que retiram desta peculiar forma de convívio e o orgulho de, com o seu exemplo, contribuirem para fazer do mundo um lugar melhor.
Com um corpo de trabalho centrado em questões relacionadas com as migrações, o ambiente, o envelhecimento e as minorias, Laure Andrillon explora as dinâmicas no seio deste grupo tão particular, procurando, através da imagem, transmitir uma noção clara de partilha, cumplicidade e superação. A emoção que retiramos da visualização deste trabalho é directamente proporcional ao prazer que percebemos nos olhares e nos gestos destes verdadeiros campeões. Sabemos que os pontos fracos estão lá e são muitos; mas há em Laure Andrillon o mérito de pôr em evidência apenas os pontos fortes, trazendo ao rosto do visitante um sorriso perante tão clara demonstração de vontade e de crer. Transportados, pelo poder das imagens, ao interior dos espaços, sentamo-nos nos mesmos bancos corridos, sentimos o mesmo calor húmido e o forte odor a cloro, o aconchego de uma toalha pelas costas ou de uma mão que ajeita debaixo da touca uma madeixa de cabelo mais rebelde. Mas são as conversas pausadas, sem pressas, sem gritos, que nos tocam e nos lembram que há mais vencedores para além daqueles que saudamos no pódio de medalha ao peito.
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