Páginas

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

CONCERTO: António Zambujo



CONCERTO: António Zambujo
Casa da Criatividade
17 Set 2022 | sab | 21:30


“Melhor do que um Zambujo só mesmo dois.” À voz vinda do meio da assistência, respondeu António Zambujo com um discreto sorriso, mas ficou a certeza de que, bem no íntimo, deve ter sentido um enorme orgulho por ver o filho seguir-lhe as pisadas e, sem favor, ser acarinhado pelo público como Diogo Zambujo o foi. Começando pelo princípio, mal se percebeu que a programação da Casa da Criatividade iria incluir, lá para o meio de Setembro, um concerto de Zambujo, a procura por bilhetes foi tal que, em poucos dias, a sala esgotou. O cantor aceitou o desafio de fazer um segundo concerto, no mesmo local, mas desta vez à tarde. Daí que o jovem Diogo tenha sido chamado para assumir a primeira parte do concerto da noite, algo que aconteceu pela primeira vez na sua ainda breve carreira. Quando os primeiros acordes da viola se fizeram ouvir e a voz ecoou na sala, a surpresa não poderia ser maior. Rapidamente se percebeu que isto de ser “filho de peixe e saber nadar” não é letra morta, pelo menos neste caso. Mais do que servir para “aquecer os motores”, canções como “Primeiro Amor Sem Nome”, “Quem Tudo Quer Tudo Perde”, “Casa Pronta” [de Mallu Magalhães] e “Em Contramão” são a demonstração da qualidade e capacidades de Diogo Zambujo e um forte augúrio de uma carreira de enorme sucesso.

Já com o pai António em palco, Diogo Zambujo despediu-se com “Escutando o Universo”, um tema com letra e música sua e que António Zambujo incluiu no seu mais recente trabalho, “Voz e Violão”. Enormes de talento e cumplicidade, Diogo e António deixam perceber, na combinação de uma voz mais pura com outra mais trabalhada e de fôlego inesgotável, na troca de olhares ou nas “bocas” que mandam um ao outro, uma parceria que está para durar. Retira-se Diogo, permanece António e as primeiras notas não se fazem esperar. A apresentar o seu último trabalho, “Voz e Violão”, António Zambujo presta uma significativa homenagem à música popular brasileira e, em particular, a João Gilberto, uma das suas maiores influências até hoje. Daí que a primeira música tivesse sabor a canela, “chamando ao palco” Chico Buarque e a sua “Valsinha” e dando início a um verdadeiro vai e vem entre as duas margens do grande mar atlântico. Marisa Monte, Yamandú Costa e Roberta Sá, Vinicius de Moraes e Baden Powell, Ary Barroso, Chitãozinho & Xororó, Benedito Seviero e Thomaz foram presença forte num alinhamento por onde passaram, inevitavelmente, o Fado de Max e Amália Rodrigues e o Cante Alentejano.

Sim, é verdade que voltou a escutar-se o “Zorro” e a “Lambreta”, “Pica do Sete” e “Multimilionário”, “Algo Estranho Acontece” e “Catavento da Sé”. Mas é sobretudo por isto que gostamos tanto de António Zambujo, que vamos a um concerto seu para cantar com ele músicas que passam por ser sempre novas, mesmo que as tenha ido buscar aos seus álbuns mais antigos (e que, em muitos casos, viviam já antes desses, na voz de outros músicos). Em S. João da Madeira essa verdade veio, uma vez mais, ao de cima. Com ela veio, também, a enorme presença do cantor diante do público, a forma ternurenta como acolheu em palco um casal, ele com uma “queixa de dezoito anos” e um pedido: “Queres voltar a casar comigo?” Ou ainda a forma como brincou com a situação depois de ter confirmado que estava tudo bem com uma senhora que deu uma queda na sala durante “O Catavento da Sé”. Nos “discos pedidos”, já no “encore”, “Som de Cristal” foi saudado com entusiasmo e o final, em apoteose, trouxe-nos aquela que é uma das melhores interpretações de “Foi Deus”, um tema de Alberto Janes, imortalizado na voz de Amália. Um grande concerto.

Sem comentários:

Enviar um comentário