Apostados em conservar, proteger, promover e desenvolver o seu património natural e cultural, os Municípios de Aveiro, Estarreja e Covilhã deram as mãos e trabalharam em rede em torno do projecto “Descobrir e Experienciar Novos Territórios”. Mediante curadoria de Rachel Caiano, artista plástica e ilustradora, um artista de cada uma das cidades envolvidas foi convidado a descobrir os ativos patrimoniais específicos de cada lugar, reflectindo sobre a melhor forma de os potencializar enquanto instrumentos de diferenciação e competitividade, acrescentando valor à cultura e património já existentes e, ao mesmo tempo contribuindo para a sua qualificação e valorização turística. Após quatro meses de pesquisa, muita troca de experiências, trabalho intenso e um programa de itinerância cuidadosamente arquitectado, o resultado, no seu conjunto, pode finalmente ser apreciado pelo público de Estarreja, com as três instalações a ocuparem um mesmo espaço no belíssimo Parque de Antuã em dia de abertura da 5ª edição do ESTAU, o Festival de Arte Urbana de Estarreja.
Diferentes formas de interpretar o território, aliadas a géneros de expressão artística distintos, passadas à prática em suportes e materiais os mais variados, resultaram num conjunto de três peças cuja complementaridade é notória. Se uma peça tem por base o triângulo, outra revela uma aparência esférica e outra, ainda, vive de um conjunto de cubos. A madeira é a base de uma peça, ao passo que as outras se erguem, essencialmente, a partir do ferro ou do papel. Numa curta viagem [de Estarreja para Aveiro], Mário Afonso vem ao nosso encontro com uma peça intitulada “Nova Dimensão Visual”. Partindo de um conjunto de imagens recolhidas nas suas deambulações pela cidade de Aveiro, o artista procedeu à sua revelação em papel através de um processo designado por cianotipia e aplicou-as em suportes acrílicos de formato cúbico que, tal como um jogo, têm o poder de articular entre si. A importância do uso da cianotipia nesta peça prende-se com a fragilidade das fotografias perante a exposição à luz solar, desbotando gradualmente até desaparecerem. Uma das leituras possíveis desta peça passa pela alusão indirecta à memória enquanto marca identitária de grandeza maior, a peça assumindo-se como um símbolo daquilo que, incapazes de reter, vamos perdendo com o passar do tempo.
[De Aveiro para a Covilhã] Marzia Bruno oferece-nos “Triangulações”, peça constituída por um conjunto de triângulos unidos entre si e em cujos vértices podemos adivinhar o perfil desta região de montanha. O vigor e a imponência da paisagem estão na base da opção pelo ferro como material primordial na construção da peça, ao qual a artista acrescentou matéria orgânica e inorgânica, oferecendo-nos a possibilidade de abraçar outras texturas. Complementarmente, os desenhos que a peça projecta no solo geram curiosos diálogos entre bidimensionalidade e tridimensionalidade, reforçados pelo conjunto de espelhos que desdobram a paisagem nesse continuum entre terra e céu. Finalmente, [da Covilhã para Estarreja], Fernando Aranda propõe-nos “Estuário Ria-Muro”, peça de enorme beleza plástica composta por dois discos de madeira que se interceptam, oferecendo um aspecto esférico que remete para uma ideia de circularidade e movimento, mas também para conceitos como o inteiro e o absoluto. Desenhadas a pirógrafo e desbastadas, as várias faces da peça dialogam entre si, oferecendo leituras ricas e variadas ao encontro da paisagem do Baixo Vouga Lagunar ou das texturas dos muros da cidade. Para ver até ao próximo domingo.
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