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quarta-feira, 7 de setembro de 2022

CINEMA: "Nós Duas"



CINEMA: “Nós Duas” / “Deux”
Realização | Filippo Meneghetti
Argumento | Malysone Borovasmy, Filippo Meneghetti
Fotografia | Aurélien Marra
Montagem | Ronan Tronchot, Julia Maby
Interpretação | Barbara Sukowa, Martine Chevallier, Léa Drucker, Jérôme Varanfrain, Muriel Bénazéraf, Augustin Reynes, Hervé Sogne, Stéphane Robles, Eugénie Anselin, Véronique Fauconnet, Denis Jousselin, Alice Lagarde, Paloma Dumaine, Sasha Roy Bellina
Produção | Laurent Baujard, Pierre-Emmanuel Fleurantin
Bélgica, França, Luxemburgo | 2019 | Drama, romance | 99 Minutos | Maiores de 14
Cinema Vida
07 Set 2022 | qua | 16:00


Com relativa frequência, vemos que o cinema de hoje faz incidir alguma da sua atenção sobre a homossexualidade masculina e as questões que lhe são adjacentes. Já os casos amorosos lésbicos, especialmente quando dizem respeito a mulheres de uma certa idade, não beneficiam da mesma exposição. Nesta que é a sua primeira longa-metragem de ficção, Filippo Meneghetti centra-se no percurso de vida de duas mulheres que, entradas na terceira idade, aparentam estar dispostas a pôr de parte o preconceito e a assumir a sua relação. É disto que “Nós Duas” nos fala, explorando muito subtilmente o impacto do olhar dos outros sobre os nossos comportamentos, o espelho distorcido de nós mesmos moldado pela visão daqueles que nos rodeiam.

Nina e Madeleine são duas mulheres que ocupam dois apartamentos no último andar de um prédio de uma cidade do interior. Passam uma boa parte do tempo juntas, conversando ou tomando chá, e quando cada uma está em casa, as respectivas portas ficam abertas, na eventualidade de uma vir a precisar da ajuda da outra. Esta é a versão oficial, aceite de forma incondicional por aqueles que lhes são mais próximos. A verdade, porém, é um pouco diferente, já que Nina e Madeleine estão apaixonadas há vários anos. Deixar tudo para trás e partir para Roma a fim de viver, tranquilamente, o seu amor, vai exigir muita coragem de ambas, sobretudo de Madeleine que, com dois filhos crescidos e um neto, tem dificuldade em confessar a natureza de seu relacionamento com Nina. Neste entretanto, o destino vem abalar os planos das duas mulheres no dia em que Madeleine sofre um derrame cerebral.

É num cenário realista, rico em oposições e contrastes, que Filippo Meneghetti inscreve uma intensa mensagem de amor, veiculada por duas actrizes magistrais, capazes de prender a nossa atenção do primeiro ao último instante do filme. Afirmando-se em territórios onde a aceitação e a cumplicidade são esteios das relações entre estas duas mulheres, “Nós Duas” abre um interessante debate que pode ter como ponto de partida o ditado popular que nos lembra que “o amor não tem idade”. O filme revela-nos um realizador com um domínio absoluto da linguagem cinematográfica, fazendo a trama fluir naturalmente e respeitando, de forma invulgar, o ritmo que a própria narrativa pede. Um grande filme de estreia que sabe contar, como poucos, uma verdadeira história de amor, frágil e às vezes contraditória, à medida da própria vida.

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