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domingo, 4 de setembro de 2022

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "A Rota do Mediterrâneo"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “A Rota do Mediterrâneo”
Agência France Press
Basqueiro Associação Cultural | BASQUEIRAL 2022
Museu de Lamas 04 Jun > 04 Set 2022


Nos últimos três anos, mais de dez mil homens, mulheres e crianças morreram na tentativa de chegar à Europa, cruzando o Mediterrâneo. São migrantes. Pessoas. Cada uma delas com a sua história, as suas expectativas, os seus sonhos. Assim começa “Europe’s Migration Tragedy: Life and Death in the Mediterranean”, documentário produzido em 2016 para a Sky News, conduzido pelo jornalista Mark Stone e que pode ser visionado AQUI. É ele que nos “abre as portas” da exposição de fotografia “A Rota do Mediterrâneo”, patente ao longo de três meses no Museu de Lamas e que chega hoje ao fim (com entrada livre). Resumidas em sensivelmente vinte e três minutos, as imagens focam-se nos trabalhos de resgate de centenas de pessoas, exaustas e desidratadas, à deriva em precários botes de borracha. São imagens impressionantes de seis dias de vida e morte no mar, entre Malta e as costas da Líbia, marcadas pelo desespero dos migrantes e a desesperança de quem tem por missão ajudar e se dá conta de não ter chegado a tempo.

Ocupando um amplo espaço no piso inferior do Museu de Lamas, “A Rota do Mediterrâneo” prolonga a experiência imersiva à qual o visitante é introduzido no documentário, oferecendo um conjunto de instalações artísticas que complementam as duas dezenas de imagens assinadas pelos fotojornalistas Aris Messinis, Andreas Solaro, Louisa Gouliamaki, Ozan Kose e Sameer Al-Doumy. Cada um de nós é convidado a acompanhar, de uma perspectiva “subaquática”, o drama que se desenrola numa das rotas de migração mais mortíferas de sempre. Olhamos para cima e vemos um pequeno bote de borracha que flutua, única esperança de dezenas de corpos presos a ele e à vida. O ruído do mar acompanha-nos, enquanto caminhamos por um fundo coberto de areia, tentando evitar as rochas que, com as suas arestas aguçadas, ameaçam rasgar-nos as carnes. Quando finalmente emergimos, rompendo a densa cortina de água, esperam-nos as cercas de arame farpado, a falta de condições dos campos de refugiados, a insensibilidade das autoridades fronteiriças. Torna-se, então, palpável a dimensão do falhanço do projecto europeu em assuntos que lhe são tão caros como os valores humanitários, a solidariedade e a defesa dos direitos humanos.

Reconhecido pela qualidade das suas exposições e pelo esforço colocado em acrescentar valor aos temas de fundo de cada uma delas, o Museu de Lamas volta a atingir patamares de excelência com a mostra que agora chega ao fim. E se, em 2021, a arrebatadora exposição de fotografia “Living Among What´s Left Behind”, do premiado fotojornalista Mário Cruz, foi merecedora de uma Menção Honrosa na categoria “Exposição Temporária” atribuída pela Associação Portuguesa de Museologia, “A Rota do Mediterrâneo” não lhe fica atrás, quer pela força das imagens e das mensagens que lhes são subjacentes, quer pela situação de desconforto que “impõe” ao visitante, obrigando-o a enfrentar ambientes inóspitos, a sofrer o medo, a lidar com a violência, a insensibilidade e a morte. Regresso ao princípio desta breve crónica e à frieza dos números, aos mais de dez mil homens, mulheres e crianças mortos na tentativa de chegar à Europa, cruzando o Mediterrâneo”. Estávamos em 2016. Seis anos depois, o drama permanece. Actualizados no passado mês de Julho, dados do Conselho Europeu falam-nos da chegada de quase setenta e cinco mil migrantes irregulares e mais de mil e quatrocentas mortes em 2022. Não basta pensar nisto. É tempo de agir para acabar com tamanha vergonha!

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