Até ao início de Fevereiro do próximo ano, está patente no Museu de Olaria, em Barcelos, a exposição “Santo António, p’ARTES de mim”, do colecionador Alexandre Correia. Trata-se de um vasto conjunto de peças das mais diversas proveniências e cujas formas, cores, materiais, suportes e linguagens estéticas são bem a demonstração da riquíssima iconografia associada ao Santo, afirmando-o como uma das mais marcantes figuras do nosso imaginário colectivo. Do figurado de Barcelos de Júlia Côta ou dos Irmãos Mistério aos Bonecos de Estremoz de Jorge da Conceição ou Madalena Bilro, dos trabalho em ferro e pedra de Luís Pinheiro à arte popular de Idalécio Metalúrgico, passando por grandes mestres barristas, como o caldense Fernando Miguel, a micaelense Isabel Silva Melo, a nazarena Lourdes Sobreiro, o pacense Júlio Campos Leal ou o tirsense Delfim Manuel, entre tantos outros, é a riqueza do nosso artesanato que se afirma de forma tão singular, na certeza da admiração e espanto em cada figura representada.
Partilhando a sua vida com Santo António desde os quatro anos, Alexandre Correia herdou a imagem do Santo que o avô tinha na cabeceira, sendo este o ponto de partida de uma colecção que se inicia, verdadeiramente, em 2014, e conta já com um número superior a um milhar de peças. E se a intenção de perpetuar a memória do avô está na génese da colecção, percebemos hoje que o seu propósito permitiu estabelecer e estreitar laços de amizade entre o colecionador e os artesãos, de cujas mãos, com imaginação e muito amor, brotam tão delicados quanto preciosos trabalhos. Esta relação cimenta-se na visita assídua a mais de duas centenas de ateliês e oficinas dos artistas, espaços de engenho e criatividade onde a magia acontece todos os dias. Os desafios lançados aos artesãos estão na origem de muitas das criações que acabam por se tornar peças únicas e exclusivas, tendo por base o respeito pela essência, a originalidade e a arte que caracteriza cada um dos artistas.
Do conjunto classicista à representação puramente naïf, do barro cru ao vidrado mais colorido, “Santo António, p’ARTES de mim” possui essa particularidade de nos tocar pelo detalhe, tornando reconhecível, senão o seu autor, pelo menos a origem da peça. Aceitar o desafio é, no mínimo, tentador. Não há como escapar ao Menino ao colo, ao hábito franciscano, ao evangelho ou ao lírio numa mão, elementos iconográficos incontornáveis deste que é conhecido como “santo casamenteiro” e “fazedor de milagres”, sobretudo tratando-se de causas perdidas. Já encontrar Santo António levado num andor por quatro mafarricos, num barquinho com pescador e varina, entre músicos num coreto, sentado num pedestal embelezado de azulejos, carregando o Zé Povinho ou de braço dado com uma baiana, num misto de irreverência e devoção, leva-nos numa viagem de Norte a Sul do continente e às Ilhas, redescobrindo a secularidade das artes passadas de geração em geração e o quanto a tradição tem ainda um peso significativo na nossa História e na nossa cultura. A não perder!
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