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quarta-feira, 28 de setembro de 2022

CERTAME: Festival Literário de Ovar FLO 2022


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CERTAME: Festival Literário de Ovar FLO 2022
Afonso Cruz, Alberto Pereira, Alexandre Rampazo, Álvaro Laborinho Lúcio, Ana Paula Jardim, Ângela de Almeida, Bento Ramires, Carla Cruz, Carlo Giovani, Carlos Campaniço, Carlos Marta, Carlos Nuno Granja, Catarina Gomes, Cláudia Lopes, Cristina Marques, D. H. Machado, Danuta Wojciechowska, Eduarda Lima, Elisa Scarpa, Elisabete Rosa-Machado, Estefânia Surreira, Filipe L. S. Monteiro, Francisco Silva, Frederico Pedreira, Isabel Nery, João Garcia Miguel, João Rasteiro, João Reis, João Só, José Carlos Barros, José Mário Silva, Lúcia Vicente, Luis Filipe Sarmento, Luis Miguel Rainha, Maja Stojanovska, Manuel Halpern, Marcelo Teixeira, Marcus Pamplona, Maria José Santana, Miguel Marques, Minês Castanheira, Mónia Camacho, Patrícia Carreiro, Paulo Salvador Lopes, Pedro Guilherme-Moreira, Pedro Podre, Ricardo Namora, Rui Guedes, Rui Oliveira, Sandy Gageiro, Sara de Almeida Leite, Sónia Borges, Susana Cardoso Ferreira, Susana Piedade, Teresa Carvalho
Vários locais
14 Set > 18 Set 2022


“É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.” Se me fosse dado eleger uma frase de um livro de José Saramago para uma conversa que bisbilhotasse aquilo que foi a oitava edição do Festival Literário de Ovar, sentando à mesma mesa escritores, editores, cronistas, romancistas, poetas, críticos literários, ilustradores, declamadores e estimado público leitor, talvez fosse justamente esta a eleita, extraída do magnífico “Viagem a Portugal”. Talvez esta, porque remete para um caminho de passos repisados, passos que, sendo os mesmos, são sempre outros a cada nova edição. Também porque a abnegação e a coragem de pôr de pé um evento desta natureza, numa sociedade que preza tão pouco o livro e a leitura, é sempre imensa. E ainda, porque as marcas do labor, do empenho e da resiliência, de mãos dadas com a delicadeza de quem faz questão de bem receber, se veem e sentem a cada nova viagem. [Porquê Saramago? Porque estamos em ano de centenário do Nobel da Literatura e porque, entre a cegueira e a lucidez, foi dos seus livros que se respigaram as frases que serviram de mote a nove mesas, qual delas a mais interessante e enriquecedora].

Tornando a um modelo com provas dadas, Carlos Nuno Granja e a sua equipa puseram de pé um conjunto de actividades que se estenderam do Teatro e da Dança, à Música e às Exposições, com Contos, Oficinas e Visitas de permeio, que “nem só de mesas vive o homem”. Ao longo de cinco dias, o difícil foi conciliar uma tão vasta oferta com as exigências de um quotidiano já de si sobrecarregado, o que vale por dizer que, no meu caso concreto, fiquei-me por quatro mesas e ainda pelo belíssimo “Ensaio Sobre a Cegueira”, pela Companhia de Dança Contemporânea de Évora, pelo Recital com a pianista Maja Stojanowska e palavras de Pedro Guilherme-Moreira, pela apresentação de “Homens Livro”, de Bento Ramires, Rui Guedes e Carlos Marta e ainda pelo concerto de João Só, a encerrar o Festival. Começando justamente pelo fim, uma palavra para o cantor e para a forma bem disposta de estar em cima do palco, para os seus dotes de comunicador e para as belíssimas canções que nos trouxe. Para quem, como eu, julgava desconhecer o seu trabalho, foi espantoso perceber que músicas como “Não Sou Eu”, “Bad Boy”, “Próxima Estação”, “Não É Verdade”, “Olha Para Mim” ou “Sorte Grande” andavam a bailar cá dentro, “sem dono”, há já muito tempo.

Quanto às mesas, destacaria aquela que abriu o Festival e que, moderada por Cristina Marques, nos trouxe a riqueza de ideias e o humor fino de Álvaro Laborinho Lúcio. Das viagens da carreira entre a Nazaré e as Caldas da Rainha, menino ainda, à dimensão mais íntima de cada um de nós que habita nas nossas interrogações e inquietações, o escritor de “As Sombras de Uma Azinheira” e “O Beco da Liberdade” ofereceu-nos a visão lúcida de quem, aos 80 anos, se afirma “um jovem, com um grande futuro atrás de mim”. Pedro Guilherme-Moreira lembrou que “o primeiro acto das ditaduras é queimar e fazer desaparecer livros”, Afonso Cruz veio dizer-nos que “qualquer tentativa de abraçar uma utopia é, em si mesma, uma distopia” e Minês Castanheira contrapôs ao afirmar que “acredita em utopias”, dando como exemplo o sonho constante que é o “seu” Bairro dos Livros. Numa mesa moderada por Isabel Nery, denunciar ou não foi a primeira questão. Se para Carlos Campaniço é imperioso denunciar - “falar do homem explorador do próprio homem” -, já José Carlos Barros diz que escreve “olhando para as coisas e trazendo-as à superfície, sem o propósito da denúncia”. Com João Reis a ver em Saramago e Pessoa “duas vacas sagradas”, que “atingiram a dimensão do sabonete” e Luís Raínha, resignado, a dizer que o seu livro [Luz / Negra] “está condenado a não ganhar um prémio literário, desde logo porque é bem escrito”, chegámos ao fim de um Festival que foi imenso e nos deixou, uma vez mais, de coração cheio.

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