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sábado, 9 de abril de 2022

FILME-ENSAIO: [sem título]



FILME-ENSAIO: [sem título],
de Paula Caspão
Museu Júlio Dinis - Uma Casa Ovarense
08 Abr 2022 | sex | 18:00


Patente ao público no Museu Júlio Dinis até ao próximo dia 01 de Maio, a exposição “Desencapados”, de Felipe Marcondes da Costa, conheceu, ao final da tarde de ontem, um momento particularmente significativo com a apresentação do Filme-ensaio de Paula Caspão. Sem perder de vista matérias que são do seu particular interesse - “entre práticas de arquivo e formas de desenfadamento de tudo o que nas nossas vidas e trabalhos quotidianos continua a performar violências colonizadoras” -, a artista, investigadora e docente no Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa procura, através do filme, dialogar com o material expositivo, abrindo espaços de reconhecimento e interpretação dos objectos e ampliando o leque de leituras possíveis.

Com uma duração ligeiramente superior a vinte e quatro minutos, o filme não assume (mas também não rejeita) a chancela de “objecto artístico”. A sua natureza estetizante aproxima-o de “Desencapados”, pelo que tem de transgressor e livre, mas também pelo pendor de estranheza que provoca no espectador e pela forma como alerta para uma certa visão unidireccional do funcionamento das sociedades. É, nessa medida, um objecto “de pensamento e para o pensamento”, assente em camadas (algumas das quais analógicas, cujos suportes foram colocados à disposição dos próprios espectadores), convocando e estimulando a discussão. Outra ponte evidente entre os objectos que compõem a exposição e o filme-ensaio reside na dimensão marcadamente política de ambos, denunciando práticas reiteradas de violência, cujo cariz normalizador acentua e tende a perpetuar a matriz imperialista que nos ofende.

À exibição do filme seguiu-se uma animada tertúlia, na qual Paula Caspão e Felipe Marcondes da Costa assumiram as despesas da conversa. Na mesa estiveram também Vitória Auer e Francisco Silva, co-fundadores da “maio maio”, editora independente sediada em Ovar, e que são também os curadores desta exposição e programadores das várias iniciativas a ela associadas. A escassez de público favoreceu a proximidade e cumplicidade entre os presentes, abrindo espaço à convivialidade e a uma muito produtiva troca de ideias. O quanto de epidérmico há no filme-ensaio e que faz dele um objecto inacabado, a necessidade de explorar e contestar o lado violento que se abriga na legitimação das instituições, os condicionalismo que nos levam a olhar para um objecto híbrido e a hierarquizá-lo, a precariedade e a estranheza como motores de desenvolvimento do pensamento, enfim, a arte nas suas múltiplas formas e interpretações, foram tópicos de discussão ricos, vivos e livres. Belos momentos de partilha a conservar no baú das boas e gratas memórias.

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