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segunda-feira, 11 de abril de 2022

CINEMA: "Quando Neva na Anatólia"



CINEMA: “Quando Neva na Anatólia” / “Okul Tirasi”
Realização | Ferit Karahan
Argumento | Gülistan Acet, Ferit Karahan
Fotografia | Türksoy Gölebeyi
Montagem | Ferit Karahan, Hayedeh Safiyari, Sercan Sezgin
Interpretação | Samet Yildiz, Ekin Koç, Mahir Ipek, Melih Selcuk, Cansu Firinci, Nurullah Alaca, Mert Hazir, Mustafa Halli, Münir Can Cindoruk, Umit Bayram, Dilan Parlak, Ferit Karahan, Nedim Salman, Siddiz Salaz, Ertan Gul, Hamdullah Arvas
Produção | Kanat Dogramaci
Turquia | 2021 | Drama | 85 Minutos | Maiores de 12
Cinema Vida
10 Abr 2022 | dom | 18:15


Apesar de algumas evidentes fragilidades, “Quando Neva na Anatólia”, a segunda longa-metragem do realizador turco Ferit Karahan, toca o espectador pela forma como descreve o quotidiano num remoto internato para rapazes curdos nas inóspitas montanhas da Anatólia Oriental. A história tem como pano de fundo um forte nevão que condiciona ainda mais o isolamento numa escola onde a disciplina é tudo. Com o aquecimento avariado, as porções de comida fortemente racionadas e os horários rígidos para todas as tarefas, as crianças vivem num ambiente quase insano, tratadas com gritos e agressões constantes por professores sem qualquer vínculo emocional com as suas almas quebradas. Assustadas e entregues a si mesmas, procuram abrigo nos mais fortes e capazes ou são vítimas de “bullying”, mas nenhuma delas se livra de punições severas, não importa o “crime” que cometam aos olhos dos seus tutores.

O filme começa com uma dessas punições, quando uma das crianças tem que suportar o castigo de um longo banho gelado numa escola não aquecida e com as temperaturas no exterior a chegarem aos trinta e cinco graus negativos. No dia seguinte a criança está sem reacção, embora os sintomas não apontem para uma doença provocada pelo frio. Companheiro de camarata, Yusuf tenta dizer  que o seu amigo está doente e precisa de ajuda, mas ninguém se mostra muito interessado em escutá-lo. Não há médico nem enfermeiro na escola e apenas um rapaz um pouco mais velho está encarregado da chave da enfermaria, situada no exterior do edifício principal. Aí, porém, o único medicamento que parece haver no armário é aspirina. A viatura da escola não tem correntes para a neve, as comunicações telefónicas são péssimas e não há ambulâncias que possam, no imediato, socorrer a criança.

Ferit Karahan retrata o internato como um lugar de crueldade, no qual persiste a lei do “olho por olho, dente por dente” e onde os mais inocentes, sem aconselhamento adequado, amor ou compreensão, acabam por soçobrar. A disciplina de ferro imposta às crianças não difere muito daquela que se espera num regime militar onde impera o dever de obediência absoluta.  Com uma história baseada na sua própria experiência de seis anos passados num internato, Karahan volta, se assim o quisermos, ao “local do crime”, acompanhado de um elenco jovem, selecionado na região onde decorreram as filmagens e que, na sua maior parte, experimentou a vida num internato. Apesar de uma boa história e de um conjunto de actores jovens adequados à função, o filme falha redondamente na qualidade interpretativa dos actores adultos, quase reduzidos a meras caricaturas. A mensagem do filme é clara mas Ferit Karaham não se mostra suficientemente hábil para conseguir passá-la ao espectador. O que resta é manifestamente pouco para fazer deste um bom filme.

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