Numa cidade relativamente pequena como o Porto, termos a possibilidade de ver duas exposições de fotografia ao mesmo tempo, com estéticas convergentes e olhares tão próximos sobre a cidade e as suas gentes, só pode ser visto como um acaso feliz. É assim com “Bernardino Pires o Fotógrafo e a Cidade”, patente no Mira Fórum, mostra sobre a qual falei anteriormente no blogue [AQUI]. É assim também com “Memórias”, de Ricardo Fonseca, fotógrafo nascido em Baião mas que viveu no Porto a maior parte da sua vida, aqui se licenciando em Economia pela Faculdade de Economia na Universidade do Porto e tendo estado à frente de grandes empresas como a STCP, a Administração dos Portos do Douro e Leixões e a Metro do Porto. Foi precisamente no Porto, mas também noutros cantos do país e em lugares tão díspares como a China ou o México, Cuba, a Turquia, a Tailândia ou o Perú, que registou preciosos momentos fotográficos ao longo de mais de meio século, dos quais uma pequena parte pode ser vista por estes dias na Leica Gallery Porto.
Curiosamente, os acasos da vida terão juntado Ricardo Fonseca e o já referido Bernardino Pires na sede da extinta Associação Fotográfica do Porto, nos anos 60 do século passado. Nessa altura, conforme recorda na introdução do seu livro “Memórias”, Ricardo Fonseca "pouco além teria ido das fotos de família” e foi justamente de Bernardino Pires, a par de António Mendes (director de fotografia do filme “Douro, Faina Fluvial, de Manoel de Oliveira) e de outros fotógrafos, que recebeu o conselho de trocar a sua câmara fotográfica Halina, “de qualidade manifestamente insuficiente”, por uma Rolleicord Vb, cuja compra foi feita por intermédio de Sérgio Godinho, que vivia e estudava em Genebra e conseguia obter material fotográfico mais em conta. Terá sido este o grande estímulo para que o seu gosto pela fotografia crescesse mais ainda, levando a que a expressão da sua arte adquirisse contornos a roçar, com frequência, o sublime.
Com um olhar delicado e sensível e um enorme bom gosto, Ricardo Fonseca foi guardando os mais variados momentos, ora fruto das viagens que o levaram a correr mundo, ora obra de uma atitude mais intimista em lugares tão próximos como a sua própria casa. Fiel ao registo analógico e em preto e branco, o artista é um admirador confesso de Henri Cartier-Bresson, cujas marcas se percebem na linguagem acentuadamente documental e nos diversos momentos de um mundo real que ao longo dos anos foi capaz de captar. Gentileza e harmonia são os instantes que facilmente associamos às suas imagens a que sempre foi fiel. Nesta exposição o visitante é presenteado com algumas imagens que demonstram tudo aquilo que Ricardo Fonseca sentiu ao longo da sua vida sempre que teve a camara na mão e que hoje, com a sua partilha, nos permite absorver em parte. Para ver até ao próximo dia 30 de Abril.
Sem comentários:
Enviar um comentário