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quarta-feira, 16 de março de 2022

EXPOSIÇÃO: "Signos e Figurações"


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EXPOSIÇÃO: “Signos e Figurações,
de Joan Miró
Curadoria | Robert Lubar Messeri
Casa de Serralves
09 Out 2021 > 06 Mar 2022


Pela segunda vez em cinco anos, Miró voltou a preencher de cor e vida os espaços nobres da Casa de Serralves. A primeira exposição, “Materialidade e Metamorfose”, teve lugar em 2016 e tratou-se de uma mostra temática. Desta vez, “Signos e Figurações”, que esteve patente até ao passado dia 06 de Março, permitiu apreciar na íntegra o conjunto de oitenta e cinco obras que integram a colecção do estado português, oferecida ao Município do Porto e cujo depósito de longo prazo compete ao Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Fazendo coincidir com o recente restauro da Casa de Serralves, segundo projecto de Álvaro Siza, a curadoria desta exposição optou por um tipo muito diferente de instalação, tendo por cenário o magnífico espaço da Casa e toda a sua verde envolvência. “Signos e Figurações” vive, em grande medida, desta relação simbiótica entre arquitectura, paisagem e a obra de Miró, permitindo ao visitante alargar os horizontes muito para além do simples espaço da tela.

Abrangendo seis décadas de trabalho intenso e profícuo, de 1924 até 1981, a colecção divide-se entre desenho, pintura, escultura e tecelagem, constituindo assim uma excelente introdução à obra e às principais preocupações artísticas de Joan Miró. Ao arrepio de qualquer formato cronológico ou linear, as obras estão agregadas tematicamente, tentando dar uma visão holística do percurso do mestre catalão. As várias salas abordam diferentes aspetos da sua arte: o desenvolvimento de uma linguagem de signos; o encontro do artista com a pintura abstracta que se fazia na Europa e na América; o seu interesse pelo processo e pelo gesto expressivo; as suas complexas respostas ao drama social dos anos 1930; a inovadora abordagem da colagem; o impacto da estética do sudoeste asiático na sua prática do desenho; e, acima de tudo, a sua incessante curiosidade pela natureza dos materiais.

“Criador de formas” por excelência, Joan Miró foi simultaneamente um “assassino” estético que desafiou os limites tradicionais dos meios em que trabalhou. Na sua arte, as diferentes práticas dialogam entre si, cruzando os meios: a pintura comunica com o desenho; a escultura seduz os objetos tecidos; e as colagens, sempre conjugações de entidades díspares, funcionam como princípio maior ou matriz para a exploração das profundezas do real. Um inventário dos suportes físicos usados pelo artista ao longo da sua carreira inclui materiais tradicionais como a tela, madeira ou cartão, mas também vidro, lixa, serapilheira, folha de alumínio ou papel alcatroado. Sempre em delicado equilíbrio com o suporte, os materiais vão desde óleo, tinta acrílica, giz, grafite, têmpera de ovo ou stencil, até ao uso inovador de bases menos ortodoxas, como gesso, caseína ou alcatrão. Numa exploração da materialidade talvez apenas rivalizada por Paul Klee, Miró expandiu decisivamente as fronteiras das técnicas da produção artística do século XX.

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