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terça-feira, 15 de março de 2022

EXPOSIÇÃO: "Moldada na Escuridão"


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EXPOSIÇÃO: “Moldada na Escuridão”,
de Hugo Canoilas
Curadoria | Rita Fabiana
Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
18 Fev > 30 Mai 2022

E se, como por magia, nos víssemos a passear nas profundezas do mar, envoltos numa densa e pesada escuridão, sentindo ao nosso redor uma miríade de animais marinhos dotados de luz própria? E pudéssemos ver a forma como microorganismos associados a fontes hidrotermais constroem estranhos habitats que partilham com invertebrados anelídeos de dimensões gigantescas? Ou pisássemos um solo formado por extensos tapetes microbianos nos quais revolteiam peixes albinos e cegos e muitos caranguejos pequenos e brancos? Hugo Canoilas oferece-nos essa possibilidade sem que para tal seja necessário descer a dois mil e quinhentos metros de profundidade a bordo do submergível Alvin. Basta que, munidos de curiosidade q.b. e uma boa dose de imaginação, espreitemos a exposição “Moldada na Escuridão” e nos entreguemos a um mundo de fascínio e beleza ímpares.

Hugo Canoilas foi convidado pelo Centro de Arte Moderna para realizar um projeto para a galeria de exposições temporárias do Museu Calouste Gulbenkian. A exposição e instalação “Moldada na Escuridão” propõe uma experiência sensorial e imersiva, prosseguindo uma investigação iniciada pelo artista em 2020, em torno do Oceano e da vida nos fundos marinhos, um dos territórios da Terra mais omnipresente, ainda que o mais desconhecido. Canoilas utiliza este paradoxo para destacar os limites do conhecimento e a complexidade da relação da cultura ocidental com a natureza. O título da exposição alude ao texto “The Gray Beginnings”, estudo científico que narra de forma poética a formação do oceano, berço da vida na Terra, constituindo um dos capítulos da obra “The Sea Around Us” (1950), da autoria de Rachel Carson, escritora, bióloga marinha e figura seminal do movimento ambientalista de meados do século XX.

Com esta exposição, Hugo Canoilas convida o visitante a entregar-se a uma experiência total do corpo e do espaço. A escuridão da galeria dramatiza os fundos dos oceanos e o seu potencial de assombro e de desconhecido, subalternizando a visão e criando as condições para a emancipação dos outros sentidos. No chão da galeria, esculturas em vidro e resina acrílica e objetos têxteis constroem camadas que se acumulam e se sobrepõem, como estratos sedimentados. A galeria abriga um conjunto de ecossistemas, em que cada objeto-coisa-criatura age sobre o outro, perde a sua autonomia e identidade única. O artista cria uma circulação fluída entre os objetos, mas também entre os processos do fazer da pintura e da escultura, utilizando formas de fixação natural, sem molde, acolhendo o imprevisto e os efeitos intrínsecos às qualidades da matéria e dos materiais que incorpora nos seus trabalhos, mimetizando também aqui os processos criativos na natureza.

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