Páginas

sexta-feira, 18 de março de 2022

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Ágora"


[Clicar na imagem para ver mais fotos]

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Ágora”, 
de Mark Bradford
Curadoria | Philippe Vergne
Museu de Arte Contemporânea de Serralves
26 Nov 2021 > 26 Jun 2022 


A folha de sala que introduz o visitante à exposição “Ágora”, apresenta Mark Bradford (Los Angeles, 1961) como “um dos nomes que melhor definiu a pintura das duas últimas décadas, concebendo a sua linguagem pictórica para falar de temas universais, como a distribuição do poder nas estruturas sociais e o seu impacto no indivíduo ou a relação entre arte e envolvimento comunitário.” As primeiras impressões não permitem perceber a verdade destas apreciações, mas entrar na enorme sala do Museu de Serralves e ver-se confrontado com a dimensão das peças, o intrincado das formas, as combinações de cores e os materiais que, após observação detalhada, se vão dando a conhecer, é, no mínimo, uma experiência desconcertante. No melhor dos sentidos.

Começo pelos materiais, base do elemento social nos trabalhos de Bradford. Nascido numa família de cabeleireiros, de que ele é a terceira geração, Bradford trabalhou durante muitos anos no salão da sua mãe, em Los Angeles, antes de ter considerado a possibilidade de usar como material para a sua prática artística os papéis usados nas permanentes para proteger as pontas do cabelo. Recorrendo a materiais do quotidiano e a ferramentas que se encontram em lojas de ferragens, Bradford criou uma linguagem artística única, baseada na sua convicção de que todos os materiais e técnicas estão impregnados de um significado que antecede o seu aproveitamento artístico. Através desta abordagem rigorosamente física à presença material da pintura, Bradford trata questões cruciais do nosso tempo, como a epidemia de SIDA, a representação deturpada e o medo da identidade queer e homossexual, o racismo sistémico nos Estados Unidos e, mais recentemente, a crise decorrente da COVID-19.

A primeira exposição de Bradford em Portugal apresenta um corpo de trabalho criado durante a pandemia e tenta refletir sobre este momento da história. É uma exposição centrada no trabalho que o artista tem vindo a desenvolver durante este período de crise, buscando inspiração na mitologia da Antiguidade e estabelecendo um paralelismo entre o presente e a Idade Média, o período em que a arte caiu refém da peste, o mais medieval de todos os perigos. “Ágora”, o título desta exposição, é não apenas a ágora grega, o espaço público e berço da democracia, mas também o “agora”, palavra simples na qual cabe a essência desta mostra: o berço de algo e um espaço de reflexão e discussão da atualidade, partindo do trabalho de Bradford e recorrendo aos tempos medievais como metáfora para as tensões sociais e os conflitos contemporâneos.

Sem comentários:

Enviar um comentário