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terça-feira, 8 de março de 2022

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Navegantes da Jangada de Pedra"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Navegantes da Jangada de Pedra”,
de Daniel Mordzinski
Instituto Cervantes de Lisboa
28 Fev > 13 Mai 2022


Há fotógrafos que dedicam toda a sua vida a um tipo único de fotografia. Em muitos casos, esta “extravagância” torna-os únicos e reconhecíveis nos seus mundos, sejam eles a micropaisagem ou a fotografia astronómica, a fotografia subaquática ou as séries “mesma hora, mesmo lugar”, todos os dias, anos a fio. No mundo dos livros, Daniel Mordzinski é “o fotógrafo”. Tudo começou em 1978 quando, na sua Buenos Aires natal, fotografou Jorge Luis Borges a propósito de um documentário sobre o escritor. Estaria então, certamente, muito longe de imaginar que, quatro décadas volvidas, teria reunido um espólio de imagens absolutamente notável em torno dos maiores vultos da literatura contemporânea, deles recebendo notoriedade e apreço. De Garcia Márquez a Jorge Amado, de Sepúlveda a Saramago.

José Saramago e as imagens recolhidas “em Paris, Lanzarote e em várias geografias” são o ponto de partida para a exposição “Navegantes da Jangada de Pedra”, que até ao dia 13 de Maio pode ser vista no Instituto Cervantes de Lisboa. A mostra surge no âmbito das comemorações do Centenário de José Saramago e reúne uma centena de fotografias de autores e autoras ibero-americanos. Paredes de diferentes cores fazem a distinção entre diferentes salas, “como capítulos de um livro”. No primeiro desses capítulos, é profunda e sentida a homenagem a Luís Sepúlveda e Almudena Grandes, enormes escritores que nos deixaram muito recentemente. Por lá deparamo-nos, também, com Inês Pedrosa, Francisco José Viegas ou Lauren Mendinueta. A sala seguinte é consagrada, essencialmente, aos retratos de uma carreira a dar os primeiros passos, ainda a preto e branco, neles avultando as figuras de Jorge Luís Borges, Júlio Cortazar, Jorge Amado, Osvaldo Soriano, Juan Goytisolo, Cristina Peri Rossi, Nelida Piñon e muitos outros.

Plenas de cor e vida, as imagens mais recentes trazem-nos os escritores da “nova vaga”. Percebe-se a importância crescente do enquadramento no trabalho de Mordzinski, a ligação entre o escritor e o meio, cada vez mais uma extensão de si mesmo e não mero pano de fundo. É lá que encontramos Manuel Vilas e Ondjaki, Filipa Leal e Paulina Chiziane, José Luís Peixoto e Yara Monteiro, Dulce Maria Cardoso, Gonçalo M. Tavares, Mia Couto, Milton Hatoun. Por fim, Saramago. Junto ao Sena, na aridez de Lanzarote, em casa com os cães ou correndo para a fotografia, o disparo em contagem decrescente. Sereno e solidário, sempre vibrante, o seu legado de ficções e utopias a surpreender-nos ao envolver num abraço tantos e tão extraordinários navegantes desta jangada de pedra. Literatura e fotografia de mãos dadas. Porque ver é (também) escrever!

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