EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “As Bravas”,
de Paulo Pimenta, a partir de um projecto PELE
Fundação Calouste Gulbenkian – Átrio da Biblioteca de Arte
28 Jan > 25 Abr 2022
“Ser Brava é a gente firmar-se naquilo que está a fazer, no que está a dizer e naquilo que quer ser.”
Criação colectiva concebida no âmbito do projeto ENXOVAL – Tempo e Espaço de Resistência, cruzando grupos comunitários do Porto e Amarante, “As Bravas” aposta na ideia do enxoval enquanto representação social da condição feminina que atravessa diferentes gerações. Bordado a muitas mãos, este é um “enxoval” diferente, nascido da vontade de homens e mulheres em questionar e transformar os estereótipos de género, abrindo espaços de liberdade e inspirando a vontade de mudança. Empenhadas em “limpar” a camada de invisibilidade que cobre as histórias de muitas mulheres, “As Bravas” dão-se a conhecer, trazendo com elas as histórias de heroínas da vida real, fortemente inspiradoras, que importa inscrever na nossa história e na nossa memória coletiva.
Entre as várias formas de dar visibilidade ao projecto e de espalhar a sua mensagem, encontramos esta belíssima exposição de fotografia, da autoria de Paulo Pimenta, e que por estes dias ocupa o espaço do Átrio da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian. Uma grande parte das imagens tem como elemento comum um manto cosido de retalhos vivos dos caminhos que fazem parte do quotidiano e da sabedoria destas mulheres, um manto que pode ser apreciado numa das paredes do átrio e que, também ele, foi crescendo, florescendo e secando ao longo do processo de criação. Nessas mesmas paredes, singelos, livres, inspiradores, encontramos os testemunhos da mulher que sonhava casar e ir para a “rua do mel” e que hoje sonha aprender a ler, da outra que adora estar no centro de convívio com as amigas por viver sozinha num lugar da aldeia onde não vive mais ninguém ou da outra, ainda, que recorda o momento em que foi a pé buscar a arca que o pai mandou fazer para o seu enxoval, trazendo-a à cabeça o caminho todo.
Esta exposição é uma celebração das Bravas, figuras mitológicas vivas, arquétipos da natureza na sua forma mais bela e mais crua. Guardiãs de pés descalços e de lembranças de tempos duros, de histórias e cantigas do passado, mas com o futuro no olhar, as Bravas são a Iara Lino e a Alexandra Mendes, a Catarina Vaz e o Marco Gomes, a Lucelina Rosa e a Gina Nogueira, a Vitória Babo, o João Carvalho e muitos outros, homens e mulheres que sussurram memórias silenciadas e cantam para espantar a solidão dos dias, que lutam e resistem, que clamam: “Por isso escutem-nos com atenção / Somos muitas, valentes e plurais / Continuaremos juntas na luta / Até sermos livres e iguais!” Para ver até ao próximo dia 25 de Abril!
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