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domingo, 20 de março de 2022

EXPOSIÇÃO: "Ato (Des)Colonial"


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EXPOSIÇÃO: “Ato (Des)Colonial”
Curadoria | Rita Rato
Museu do Aljube - Resistência e Liberdade
20 Jan > 12 Jun 2022


Na literatura, como nas artes visuais, nas artes de palco ou em tantas outras expressões artísticas, é muito e bom o trabalho que se vem desenvolvendo em torno do pós-colonialismo e da herança de um tempo onde a afirmação do Império dividia o país entre continente e colónias, poder central e províncias ultramarinas, brancos e pretos. Isabela Figueiredo, Joana Craveiro, Grada Kilomba, André Amálio, Dulce Maria Cardoso, Joana Pontes ou Cláudia Andrade são nomes que acorrem de imediato à mente ao pensarmos nesta temática, assumindo um papel importantíssimo na desconstrução dos dogmas que teimam em ser mantidas e que mais não servem do que alimentar fantasias e branquear um passado que nos deve envergonhar a todos. No Museu do Aljube – Resistência e Liberdade, “Ato (Des)Colonial” vem juntar-se a este esforço de reposição da verdade histórica, trazendo-nos um conjunto de testemunhos de resistência e de luta, num tempo em que, “orgulhosamente sós”, subjugámos, humilhámos e aniquilámos aqueles cuja única “culpa” residia na cor da pele.

Baixa de Cassange, Angola, 1962. Mueda, Moçambique, 1960. Pidjiguiti, Guiné-Bissau, 1959. Batepá, S. Tomé e Príncipe, 1953. “Ato (Des)Colonial” pede-nos que não esqueçamos estas datas e estes lugares, ao mesmo tempo convidando-nos a recuar um pouco mais, ao tempo em que estudantes vindos de vários países africanos, antigas colónias, se encontram, nas décadas de 40 e 50, na Casa dos estudantes do Império, no Centro de Estudos Africanos e no Clube Marítimo Africano. Muitos participaram também nas lutas antifascistas, no Movimento de Unidade Democrática Juvenil e noutros movimentos. Esses encontros irão levar à Conferência de Bandung e ao nascimento do Movimento Anticolonial, criado em Paris e Lisboa em 1957 por Agostinho Neto, Marcelino dos Santos, Lúcio Lara, Viriato da Cruz, Amílcar Cabral e Guilherme do Espírito Santo. “Pensar Portugal, pensar Angola ou Moçambique ou Guiné-Bissau ou S. Tomé e Príncipe, pensar inteligentemente o problema de um futuro que ultrapasse as questões actuais de dominação e de exploração, é dever revolucionário.” As palavras são de Agostinho Neto e dão o tom a esta exposição onde se lê, também, que “um povo que oprime outros povos não pode ser um povo livre.”

A violência está na génese, na prática e na simbologia de um processo de ocupação. Mas a violência encontra resistência, com diferentes expressões e impactos. “Ato (Des)Colonial” pretende revelar e relevar diversos processos de resistência ao colonialismo português entre 1926 e 1974, período objecto do Museu do Aljube - Resistência e Liberdade. É uma exposição que pretende contribuir para o questionamento da herança colonial do nosso país, em particular durante o período da ditadura, e para a valorização das experiências de resistência anti-colonial enquanto processos determinantes para a autodeterminação e independência dos povos africanos, mas igualmente essenciais para o derrube do fascismo em Portugal. Através de painéis profusamente ilustrados, documentos de época, fotografias, cartazes e outros elementos representativos da luta pela independência, “Ato (Des)Colonial” convida a pensar sobre abordagens necessárias a uma prática antirracista, nas escolas, nos espaços públicos de cultura e na sociedade. Nas palavras da curadora, Rita Rato, “que este Ato (Des)Colonial seja mais um, entre outros, e que gere pensamento e acção anti-colonial e antirracista, abolicionista de todas as formas de violência.”

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