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quarta-feira, 30 de março de 2022

CONCERTO: Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento



CONCERTO: Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento
Convidados | Jorge Benvinda, Miguel Araújo, Mafalda Vasques, Pedro Mestre, António Zambujo
Casa da Música - Sala Suggia
26 Mar 2022 | sab | 21:00


“O Cante nasce do ventre da terra. É gerado no interior do chão alentejano, entre pedras fraturadas pela inclemência do clima e por poderosas forças telúricas. Solta-se, ainda débil e frágil, e é transportado maternalmente junto ao solo pela aragem vagarosa dos longos dias de Verão, ganhando o andamento lento e a modulação suave das planícies alentejanas. Vai assimilando e incorporando na sua essência o balir dos rebanhos, o trinar melodioso do pintassilgo, o bater de asas de uma perdiz fugidia, o fragor da água a cair num pego sequioso. Ganha força, coesão e sonoridade ao reflectir-se, repetidamente, na brancura imaculada das paredes das aldeias. O Cante é a voz do Alentejo. É a nossa voz. É a voz do Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento.” Foi em silêncio que o público escutou as palavras que abriram uma noite memorável, como foi em silêncio que guardou a primeira voz do Cante: “Eu cheguei e não falei / Aos senhores que aqui estão / Falo-lhe agora, cantando / Boa-noite, como estão?”

Numa homenagem à sua terra, Aldeia Nova de São Bento, “És a Mãe dos Cantadores” abriu o concerto com a pureza do Cante, as vozes harmoniosas e pujantes dos cantadores a tomarem de assalto o coração do público. Como se de um bloco de som se tratasse, o Rancho dava início ao desfiar de algumas das mais populares modas alentejanas, evidenciando a coesão e força que se funde humildemente na unidade do grupo e mostrando o porquê de ser um dos mais ilustres representantes de um género musical que é Património Cultural e Imaterial da Humanidade pela UNESCO desde 2014. Pensado como uma celebração do Cante, pretendendo evidenciar a singularidade da sua polifonia, a genuinidade das músicas e letras, a potência das vozes, mas também a sua versatilidade, a forma como integra ou se entrosa noutros géneros musicais, o concerto chamou ao palco, em diferentes momentos, um conjunto de distintos convidados que ampliaram o prazer de ouvir os cantadores e a sua música e contribuíram para fazer deste um momento único de comunhão e de festa.

Num concerto onde Pedro Mestre e a sua viola campaniça assumiram um papel relevante, Jorge Benvinda subiu ao palco para interpretar “Vou Cantar Até Cair” e o delicioso “Gotinha d’Água”. Mafalda Vasques, uma voz que desponta no fado, cantou “Alentejo Infinito” e acompanhou o Rancho em “Quinta-Feira d’Ascensão”, dando-lhe um toque “afadistado” e fazendo uma sublime terceira voz. Miguel Araújo juntou-se ao Rancho para interpretar “Romaria de Santa Eufémia” e António Zambujo cantou “Trago Alentejo na Voz” e “A Moda do Meu Chapéu”. Entre o estrado e um espaço que simulava uma taberna, o Rancho cantou ainda “Pomba Branca”, “Açores”, “Canta Alentejo, Canta”, “Fui ao Jardim Passear”, “Oh Francisca”, “Manjerico da Janela”, “Eu Ia Pela Rua”, “O Triste do Mocho”, “Centro ao Centro”, “Lampião, Lampião”, “Varejo”, “Viva a Quem Vive Tão Longe” e “Despedida, Despedida”. No “encore” (que esteve para não acontecer), cantadores e convidados em palco, recordou-se “Gotinha d’Água” e “A Moda do Meu Chapéu”, rematando com chave de ouro uma noite que deixou o público de coração cheio. Valeu a pena esperar dois anos por este momento!

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