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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

EXPOSIÇÃO: "Eileen Gray E.1027"


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EXPOSIÇÃO: Eileen Gray E.1027,
de Eileen Gray
Curadoria | Carolina Leite, Wilfried Wang, Peter Adam
Museu Nacional de Arte Contemporânea
28 Nov 2021 > 24 Abr 2022


Depois do Mebane Hall em Austin, no Texas, da Akademie der Künste em Berlim, da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e do Instituto de Arquitetura Basco em San Sebastián, é agora a vez do Museu do Chiado acolher “Eileen Gray. E.1027, Arte Total”, projecto que vai buscar o nome à casa de férias, branca e alongada, que a designer anglo-irlandesa Eileen Gray denominou de E.1027 e que fez construir na encosta rochosa de Côte d‘Azur em Roquebrune Cap Martin. Aos 52 anos, esta foi a sua primeira incursão no mundo da arquitectura, realizada com o apoio do seu então companheiro Jean Badovici, editor da revista de vanguarda L’Architecture Vivante. Para Gray, E.1027 mais do que a oportunidade de aplicar novos conceitos espaciais, seria um manifesto, revisitado nos seus subsequentes projectos, para o qual ela concebeu não só a arquitectura, mas também praticamente todos os objectos e peças de mobiliário.

Com curadoria de Carolina Leite, Wilfried Wang e Peter Adam, “Eileen Gray. E.1027, Arte Total” convida o visitante a conhecer o extenso processo de investigação que resultou nesta exposição e que realça a sua importância. Trata-se de uma exposição que combina diverso material informativo com uma instalação à escala real do quarto principal onde é possível experimentar directamente a síntese de proporções espaciais, materiais, cores e peças de mobília, adquirindo-se assim uma impressão imediata das ideias arquitectónicas desta indevidamente negligenciada pioneira do moderno. Esse é, na verdade, o grande mérito da exposição, o de nos lembrar que tudo isto aconteceu há sensivelmente um século e de nos deixar absolutamente embasbacados com a visão modernista de Eileen Gray, a sua enorme criatividade e capacidade de encontrar soluções harmoniosas e contextualizadas para as dificuldades que, seguramente, encontrou ao longo do processo.

Projectada como um refúgio tranquilo para Gray e o seu amante, a casa tem na privacidade um dos seus principais objetivos. No exterior, janelas bi-dobráveis do chão ao tecto abrem-se para o Mediterrâneo, trazendo luz e acesso visual, mas persianas e duas faixas de tela protegem os interiores da casa, bloqueando a incidência da luz forte do sol da tarde e emoldurando a vista para o mar. No interior, a casa abstém-se de usar uma planta livre. Os seus espaços internos não são revelados imediatamente: Gray foi meticulosamente eficiente em matéria de espaço e os quartos são lugares privados à procura de serem descobertos. os guarda-roupas abrem-se para se tornarem paredes, o sofá da sala transforma-se em cama e uma série de armários e outros móveis sob medida estão embutidos ou intrinsecamente em sintonia com o resto da casa. O exemplo mais proeminente deste engenho é a “mesa E.1027”, projectada para a irmã de Gray para que ela pudesse tomar o pequeno almoço na cama.

Chamaram-lhe a “casa maldita”, o que não andará longe da verdade. A E.1027 sobreviveu à profanação de Le Corbusier, foi alvo de destruição por parte do invasor nazi, por um tempo foi destino de orgias e drogas e esteve perto do abandono. Felizmente, o futuro da casa parece agora mais sorridente: a Cap Moderne, organização sem fins lucrativos empenhada na reabilitação e na abertura do edifício como um destino cultural, lançou recentemente uma campanha de financiamento colectivo para prosseguir com o seu restauro. Os primeiros esforços concentraram-se na recriação dos móveis projetados por Eileen Gray, concentrando-se agora na tentativa de remobilar a sala de jantar da casa, incluindo uma mesa de jantar com luz elétrica embutida e tampo de cortiça projetado para proteger pratos e copos. Curador da Cap Moderne, Tim Benton lembra que “o projeto de interiores modernista é um dos quatro mais importantes do mundo”.

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