Páginas

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "A Guerra Guardada"


[Clicar na imagem para ver mais fotos]

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “A Guerra Guardada”
Fotografias de soldados portugueses em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique 1961 - 1974
Curadoria | Maria José Lobo Antunes, Inês Ponte
Museu do Aljube - Resistência e Liberdade
13 Jan > 20 Mar 2022


Durante os anos da guerra, milhares de jovens recrutados para Angola, Guiné-Bissau e Moçambique tiraram fotografias daquilo que os rodeava: os camaradas, os quartéis, as paisagens, o quotidiano, as populações civis, o aparato militar. Estas imagens escaparam à censura do regime e foram guardadas ou enviadas pelo correio como provas de vida à distância.  Alguns destes homens construíram laboratórios improvisados, outros acederam a laboratórios oficiais. Vários frequentaram lojas de fotografia que floresceram com a procura gerada pela guerra. Muitos compraram e trocaram imagens. Com o finalizar do conflito, imensas colecções de antigos soldados foram destruídas, como se o passado se pudesse apagar nesse gesto. Outras, com o desaparecimento dos seus donos, ficaram órfãs. Muitas sobrevivem ainda, algumas das quais constituem o cerne desta mostra.

Patente no Museu do Aljube - Resistência e Liberdade, “A Guerra Guardada” é uma exposição que explora coleções pessoais de homens que em tempos foram soldados. A maioria das fotografias foi recolhida através de entrevistas presenciais no quadro de uma investigação etnográfica em curso no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. As restantes estão publicadas em diversos sítios e arquivos da internet. Dispersas um pouco por todo o país, retratam um tempo e um espaço distantes, e mostram uma guerra vivida mas também imaginada. Banais ou extraordinárias, reveladoras ou inocentes, geralmente a preto e branco, revelam os muitos mundos de uma guerra longa e anacrónica que foi mandada combater pela ditadura.

As imagens da Guerra do Ultramar fazem parte da memória coletiva da sociedade portuguesa nas últimas décadas e “A Guerra Guardada” é prova disso, mostrando o quão presente está nas nossas vidas um conflito que representou o início do fim do Império. Da partida para Angola, “rapidamente e em força” ao 25 de Abril e ao processo de descolonização que se lhe seguiu, mediaram cerca de 13 anos. Ao longo desse tempo, noventa por cento da população jovem masculina foi mobilizada para os teatros de guerra de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau onde dez mil jovens acabariam por perder a vida e vinte mil por ficar inválidos. Entre os civis que viviam nas colónias ultramarinas, o número de vítimas ascende a cem mil. Documentos únicos de um viver e um sentir marcados pela aflição e pelo medo, mas também pela consciencialização crescente da ausência de sentido do conflito armado e do enorme desgaste e perdas em vidas humanas, estas imagens são pequenas frinchas nas desgastadas portas que Abril abriu. Uma exposição incontornável.

Sem comentários:

Enviar um comentário