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sábado, 26 de fevereiro de 2022

CINEMA: "A Pior Pessoa do Mundo"



CINEMA: “A Pior Pessoa do Mundo” / “Verdens verste menneske”
Realização | Joachim Trier
Argumento | Joachim Trier, Eskil Vogt
Fotografia | Kasper Tuxen
Montagem | Olivier Bugge Coutté
Interpretação | Renate Reinsve, Anders Danielsen Lie, Maria Grazia Di Meo, Herbert Nordrum, Hans Olav Brenner, Mia McGovern Zaini, Olav Stubberud, Deniz Kaya, Nataniel Nordnes, Vidar Sandem, Helene Bjorneby, Gisle Tveito, Anna Dworak  Produção | Andrea Berentsen, Thomas Robsahm
Noruega, França, Suécia, Dinamarca | 2021 | Comédia, Drama, Romance | 128 Minutos | Maiores de 14
Cinema Vida
24 Fev 2022 | qui | 16:00


Contado em doze partes, complementadas com um prólogo e um epílogo, “A Pior Pessoa do Mundo” é um delicioso momento de cinema. Nele, Julie (fabulosa Renate Reinsve), uma estudante de medicina que se tornou uma estudante de psicologia, que se tornou fotógrafa, está presa numa confusão existencial numa altura em que se aproxima rapidamente dos seus 30 anos. A adensar os momentos de indecisão que atravessa, percebe que quer abandonar o seu relacionamento de longa data com o romancista gráfico Aksel (Anders Danielsen Lie), para ganhar uma nova perspectiva de vida ao lado de Eivind (Herbert Nordrum). Confuso? Por certo que sim, ou não fosse este um filme que olha de frente a dificuldade de nos situarmos perante uma sociedade feita de mudanças constantes, em crise acentuada de valores, com uma oferta que contraria as convenções e nos manda seguir em frente se sabermos muito bem para onde.

A maioria dos filmes que se debruçam sobre temas como o amadurecimento tem como alvo a idade da adolescência, mas não são muitos aqueles que nos mostram o que acontece no “limbo” de uma idade suficiente “avançada” para se esperar que as coisas acabem por se resolver por si quando tudo está ainda tão envolto em incerteza. O que o filme nos vem dizer é que os problemas da vida não terminam porque alguém fez dezoito anos, finalmente entrou para a universidade e tem todo um caminho risonho e feliz à sua frente. Pelo contrário, “A Pior Pessoa do Mundo” leva-nos ao encontro da realidade de um novo punhado de problemas que surgem quando alguém, entrado na casa dos trinta, deve abraçar uma carreira ao mesmo tempo que navega entre as variantes dos relacionamentos adultos e as decisões sobre um futuro que envolva família e dos filhos.

Joachim Trier faz um trabalho maravilhoso na forma crua como retrata as várias questões que o filme levanta, focando-se na ideia de que os nossos actos acarretam sempre consequências, donde resulta uma noção muito clara da fragilidade dos relacionamentos e a percepção do terrível, mas inevitável, fim da vida. Todos os elogios serão insuficientes para classificar a interpretação de Renate Reinsve, a espontaneidade do seu sorriso, o olhar desconcertante e a naturalidade do gesto a pontuarem todos os momentos do filme e a tornarem-no verdadeiramente cativante. Embora o título possa indiciar o contrário, Julie é incrivelmente simpática e sua demanda em busca para do equilíbrio aos trinta anos encontrará eco numa grande quantidade de espectadores que, tal como ela, se sentem inseguros quanto ao seu lugar neste mundo. A última nota vai para a banda sonora, com assinatura de Olá Fløttum, pontuando na perfeição os momentos cómicos ou dramáticos do filme ao som de Ahmad Jamal Trio, Billie Holliday, Christopher Cross, Harry Nilsson ou uma versão das “Águas de Março” interpretada por Art Garfunkel.

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