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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

CINEMA: "Caixa de Memórias"



CINEMA: “Caixa de Memórias” / “Memory Box”
Realização | Joana Hadjithomas, Khalil Joreige
Argumento | Joana Hadjithomas, Khalil Joreige, Gaëlle Macé
Fotografia | Josée Deshaies
Montagem | Tina Baz
Interpretação | Rim Turki, Canal Issa, Paloma Vauthier, Clémence Sabbagh, Nisrine Abi Samra, Joe Kodeih, Hassan Akil, Rabih Mroue, Jade Charbonneau, Benjamin Hatcher, Denis Larocque, Tayna V. Lavoie, Luc-Martial Dagenais
Produção | Lua Déry, Christian Eis, Jasmyrh Lemoine, Barbara Letellier, Kim McCraw, Georges Schoucair, Carole Scotta
Canadá, Líbano, França | 2021 | Drama | 100 Minutos | Maiores de 14
Cinema Vida
20 Fev 2022 | dom | 18:15


As marcas deixadas pela guerra do Líbano são o grande assunto deste filme. Ao longo de mais de hora e meia, acompanhamos as memórias de três mulheres de distintas gerações - mãe, filha e neta -, a viverem em Montreal depois de terem deixado Beirute para trás há quase três décadas. O pesadelo de uma cidade destroçada e as lembranças dos amigos e familiares perdidos pareciam esquecidos quando uma encomenda, proveniente do Líbano, veio alterar o curso normal dos acontecimentos. A destinatária é Maia e o enorme pacote contém o espólio da correspondência entre esta e a sua amiga Liza, separadas pelo agudizar do conflito. São fotos, diários e gravações áudio que as duas amigas trocaram quando, na década de 1980, uma delas partiu com a família para França enquanto a outra permaneceu em Beirute. De um instante para o outro, o passado volta a fazer-se presente.

“Caixa de Memórias” não é um filme sobre o passado, mas sobre a memória. Nele, Joana Hadjithomas e Khalil Joreige reconstroem uma parte fundamental da relação com Beirute nas vidas de jovens que representam toda uma humanidade. Obra a meio caminho entre a ficção e o documentário, “Caixa de Memórias” fala-nos da importância de remexer no passado para melhor compreender o presente. Neste presente, o passado é visto como uma ferida que nunca foi curada, sendo à neta, espectadora impotente dos acontecimentos, que caberá aceitar aquela encomenda, aquela carga, aquela memória. Nesta viagem entre passado e presente, o espectador é convidado a compreender e separar claramente os sentimentos de cada época para amalgamá-los depois de encontrar as chaves certas que abram “caixas” há muito tempo fechadas.

Duas gerações em paralelo, dois lugares distantes. O diálogo com o passado encontra-se facilitado porque os materiais (cassetes de áudio, fotografias reveladas em camaras escuras, colagens e páginas escritas) lembram-nos que a construção da memória tem essa capacidade de se adaptar aos meios, ainda que as suas intenções e objectivos sejam imutáveis. Os objetos característicos das diferentes épocas ajudam-nos a percorrer essa jornada sem nos desorientarmos: Passamos da era analógica para a digital com alguns cliques e com as notas “new wave” inconfundíveis de Blondie com “One Way or Another” e “Fade to Gray” dos Visage . Assim como o amor salvou um grupo de jovens da loucura de um país em guerra, hoje o amor salva da incomunicabilidade estas três mulheres, unindo-as por intermédio de um passado distante. Está criado o alfabeto emocional entre gerações, a passagem de testemunho feita de palavras simples, de esperança e confiança: “Aos nossos filhos”.

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