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domingo, 1 de agosto de 2021

CONCERTO: Tainá



CONCERTO: Tainá
Ovar Expande’21
Escola de Artes e Ofícios
29 Jul 2021 | qui | 21:00


“Há tanta gente que se olha e não se vê / Ouve tua fala e não consegue compreender / Há tanto passo que nem percebe o seu caminho / Só quero andar e tropeçar em um sorriso”. Foi com a música e a poesia de “Humanidade” que Tainá se apresentou ao público que, uma vez mais, esgotou a bonita sala da Escola de Artes e Ofícios, nesta segunda sessão do Ovar Expande’21. Na sua voz de uma doçura sem par, a cantora dava o mote para um concerto que se prolongou por pouco mais de uma hora e confirmou a ideia de que o nosso panorama musical está recheado de artistas talentosos, a fazerem coisas muito boas, mas que permanecem na sombra sobretudo agora que a pandemia vem fustigando a cultura de forma inclemente e mantém muitos palcos encerrados. Também por isso, vai uma chapelada para a Divisão da Cultura da Câmara Municipal de Ovar, por teimar em manter acesa esta chama, dando-nos a oportunidade de fruir tantos e tão belos momentos.

Mas quem é Tainá, afinal? Leio que, “com 23 anos de uma vida nómada, aterrou em Portugal, vinda do Brasil natal, onde cresceu e estudou música trabalhando na escola para pagar o seu curso. A viver [há quatro anos] em Lisboa,  passeava um dia pelas ruas quando se juntou espontaneamente a uma jam de um grupo de músicos e foi desafiada a cantar “Corcovado”, de Tom Jobim. No final soube que se tratava da banda de Erlend Øye, dos Kings of Convenience, que no dia seguinte actuava a solo no Capitólio. Convidada a assistir ao concerto, Tainá cantava à porta da sala quando Erlend Øye a ouviu e se lhe juntou: impressionado, propôs-lhe actuar nos seus dois concertos seguintes em Portugal. Estes e outros factos transformam-se em histórias fascinantes quando relatados por Tainá, contadora, cantora e compositora, que no seu disco de estreia, editado em 2019, começou a construir um legado musical e lírico capaz de unir os dois lados do Atlântico.”

Retomando o fio à meada, “Caminho” foi o segundo tema cantado por Tainá e, com ele, a convicção de estarmos perante uma música envolvente, intimista, feita de poemas desenhados para contar uma história fortemente pessoal. “O caminho se faz no caminhar”, escuta-se nas palavras da cantora, que mais à frente, em “Limiar”, nos vem dizer “Ainda sou criança e mal sei engatinhar”, ou confessar “De dia eu sou o sol / À noite escureço, é tão incerto”, nesse belo tema que é “Desertos”. “Apuana” - “Apoena sou, desde curumim / Avistei tão longe Butantã / E me fiz jardim” -, “Sonhos”, “Rio”, “Reverbera” e “Jasmim”, a balada que Tainá levou ao Festival da Canção em Março passado, foram belas e vistosas flores num bouquet que se foi enchendo de cor e vida, embelezado com duas pérolas, “Peito Dividido” e “Senti”, este último um cheiro a vento e mar, na vida de um pescador que parte sem certezas de voltar. “Não Sei Porque Te Foste Embora” e “Corcovado”, Amália e Jobim invocados da forma mais pura e bela, puseram o ponto final num concerto que foi um afago aos sentidos e uma carícia à alma.


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