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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA:
“Caminantes”,
de Felipe Jacome
Encontros da Imagem de Braga 2019
Nova Galeria do Largo do Paço
14 Set > 27 Out 2019
A Venezuela está mergulhada numa
profunda crise política, económica, social, ambiental e
humanitária, que se vem agudizando desde 2013. Na sua origem está o
cerco imperialista dos Estados Unidos, fortemente apoiado pela União
Europeia, sobretudo desde a humilhante derrota do partido de Nicolás
Maduro nas eleições legislativas de 2015. Com a oposição a deter
dois terços dos lugares na Assembleia Nacional e o país mergulhado
numa profunda crise política, sobreveio um agravamento da crise
económica devido à queda dos preços do petróleo, principal
produto de exportação da Venezuela e cujas receitas financiavam
programas e serviços sociais. Segundo dados do Fundo Monetário
Internacional, o PIB per capita do país caiu mais de 35% entre 2013
e 2017 e a inflação disparou de tal forma que, o que a 1 de Janeiro
de 2018 tinha o custo de um bolívar, no final do ano custava 17 mil
bolívares. Como resultado da crise, uma nova crise, esta de carácter
humanitário, surgiu para assolar a população, vítima da escassez
de bens essenciais como remédios e alimentos.
Foi precisamente esta Venezuela em
crise – na qual o salário médio mensal mal dá para comprar uns
quilos de arroz ou farinha e onde as extintas notas Bolívares são
usadas para fazer pulseiras, bolsas e até figuras de origami -, que
saltou para o topo da lista de preocupações do equatoriano Felipe
Jacome, fotógrafo, que após terminar os estudos na London School of
Economics começou a direccionar o seu trabalho para questões de
mobilidade humana e de direitos humanos. Mas o que precisa acontecer
para o dinheiro deixar de ser dinheiro? Como é que o dinheiro fica
despojado do que Marx chamou o seu valor de troca? E quais são essas
implicações para o povo da Venezuela? A estas, outras interrogações se
juntaram: Como é que se fotografa uma crise? Fotografam-se as longas
filas para comprar comida? Focam-se as atenções nos corpos rijos
das crianças? Fazem-se grandes planos dos olhos do povo desesperado
por dias melhores?
Foi em busca de respostas para estas e outras questões que
Felipe Jacome partiu para a fronteira venezuelana, juntando-se a um
grupo com o qual caminhou cerca de duzentos quilómetros, desde
Cucuta até Bucaramanga, possivelmente um dos trilhos mais difíceis para sair do país. Aquilo que encontrou foi uma estrada
pejada de “Caminantes”, homens, mulheres e muitas crianças com
os rostos assolados pelo desgosto, medo, luto, nostalgia, resignação
e, acima de tudo, incerteza. As imagens do fotógrafo levam-nos ao encontro do barbeiro de Barquesimento Ender Perez, do emigrante peruano Pedro
Martínez, dos jovens Jairo e Julia, do valenciano Fernando Ruiz, de Luis
Silva que deixou para trás Puerto Cabello e de muitos outros. Decidiu gravá-los directamente sobre a moeda Bolívar extinta através de um
processo com prata gelatinosa, colando as
imagens dos migrantes às notas, símbolo, causa e consequência da
crise. As faces da moeda de Bolívar – Miranda, Guicaipuro, Cáceres
de Arismendi, Negro Primero –, que antes sustentaram orgulhosamente
a riqueza e o sucesso da Venezuela, parecem agora olhar uma geração
que foi expulsa do seu país pela fome e pela desesperança. Da mesma
forma, a flora e a fauna presentes no verso das notas fala agora de
uma pátria pródiga abandonada pelo seu povo.
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