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domingo, 22 de dezembro de 2019

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Caminantes"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Caminantes”,
de Felipe Jacome
Encontros da Imagem de Braga 2019
Nova Galeria do Largo do Paço
14 Set > 27 Out 2019


A Venezuela está mergulhada numa profunda crise política, económica, social, ambiental e humanitária, que se vem agudizando desde 2013. Na sua origem está o cerco imperialista dos Estados Unidos, fortemente apoiado pela União Europeia, sobretudo desde a humilhante derrota do partido de Nicolás Maduro nas eleições legislativas de 2015. Com a oposição a deter dois terços dos lugares na Assembleia Nacional e o país mergulhado numa profunda crise política, sobreveio um agravamento da crise económica devido à queda dos preços do petróleo, principal produto de exportação da Venezuela e cujas receitas financiavam programas e serviços sociais. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional, o PIB per capita do país caiu mais de 35% entre 2013 e 2017 e a inflação disparou de tal forma que, o que a 1 de Janeiro de 2018 tinha o custo de um bolívar, no final do ano custava 17 mil bolívares. Como resultado da crise, uma nova crise, esta de carácter humanitário, surgiu para assolar a população, vítima da escassez de bens essenciais como remédios e alimentos.

Foi precisamente esta Venezuela em crise – na qual o salário médio mensal mal dá para comprar uns quilos de arroz ou farinha e onde as extintas notas Bolívares são usadas para fazer pulseiras, bolsas e até figuras de origami -, que saltou para o topo da lista de preocupações do equatoriano Felipe Jacome, fotógrafo, que após terminar os estudos na London School of Economics começou a direccionar o seu trabalho para questões de mobilidade humana e de direitos humanos. Mas o que precisa acontecer para o dinheiro deixar de ser dinheiro? Como é que o dinheiro fica despojado do que Marx chamou o seu valor de troca? E quais são essas implicações para o povo da Venezuela? A estas, outras interrogações se juntaram: Como é que se fotografa uma crise? Fotografam-se as longas filas para comprar comida? Focam-se as atenções nos corpos rijos das crianças? Fazem-se grandes planos dos olhos do povo desesperado por dias melhores?

Foi em busca de respostas para estas e outras questões que Felipe Jacome partiu para a fronteira venezuelana, juntando-se a um grupo com o qual caminhou cerca de duzentos quilómetros, desde Cucuta até Bucaramanga, possivelmente um dos trilhos mais difíceis para sair do país. Aquilo que encontrou foi uma estrada pejada de “Caminantes”, homens, mulheres e muitas crianças com os rostos assolados pelo desgosto, medo, luto, nostalgia, resignação e, acima de tudo, incerteza. As imagens do fotógrafo levam-nos ao encontro do barbeiro de Barquesimento Ender Perez, do emigrante peruano Pedro Martínez, dos jovens Jairo e Julia, do valenciano Fernando Ruiz, de Luis Silva que deixou para trás Puerto Cabello e de muitos outros. Decidiu gravá-los directamente sobre a moeda Bolívar extinta através de um processo com prata gelatinosa, colando as imagens dos migrantes às notas, símbolo, causa e consequência da crise. As faces da moeda de Bolívar – Miranda, Guicaipuro, Cáceres de Arismendi, Negro Primero –, que antes sustentaram orgulhosamente a riqueza e o sucesso da Venezuela, parecem agora olhar uma geração que foi expulsa do seu país pela fome e pela desesperança. Da mesma forma, a flora e a fauna presentes no verso das notas fala agora de uma pátria pródiga abandonada pelo seu povo.

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