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VISITA GUIADA: Rota Bordaliana
Orientada por | Vera Marques
Organização | Go Caldas
06 Out 2019 | Dom | 09:30 – 12:30
Particularmente conhecida pela sua
relação com a Rainha Dona Leonor e por uma pujante e imaginativa
indústria cerâmica, Caldas da Rainha é merecedora de uma visita
atenta e cuidada. Com inúmeros motivos de interesse museológico
patentes nos mais diversos locais, a cidade abre-se ao visitante em
espaços tão diversos como o Museu do Hospital e das Caldas, o Museu
da Cerâmica, o Museu de José Malhoa, o Museu da Fábrica das
Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro ou a Igreja de Nossa Senhora
do Pópulo, entre outros. Para os que preferem os espaços mais
abertos, impõe-se um passeio pela “rua das montras” ao encontro
dos inúmeros exemplares Arte Nova, umas horas de “détente” no
Parque D. Carlos, verdadeiro “jardim botânico” que abriga
exemplares da flora dos cinco continentes ou uma visita à Praça da
Fruta, bem no centro da cidade, sorvendo o ambiente genuíno do único
mercado diário horto-frutícola ao ar livre do País. E que se
programe o tempo de uma pausa, ainda que breve, no Café Central,
para degustar as genuínas cavacas das Caldas.
Com tanta oferta para tão pouco tempo,
a opção recaiu sobre a Rota Bordaliana, mediante visita previamente
reservada junto da Go Caldas – Guia Turístico da Zona de Caldas da
Rainha, uma operadora que tem como grande objetivo potenciar a cidade
como destino turístico, tirando o melhor partido dos seus recursos e
das iniciativas de actores diversos que representam os polos da arte
e cultura da cidade. A escolha não poderia ter sido mais feliz, já
que as duas dezenas de réplicas de figuras bordalianas, produzidas
em escala gigante e espalhadas por toda a cidade, serviram de
pretexto para conhecer as Caldas da Rainha de uma forma diferente,
ficando a saber mais das suas histórias e memórias graças ao
cuidado, ao conhecimento e aos extraordinários dotes de comunicadora
de Vera Marques, a nossa simpática e dedicada guia.
Bem animada ao início duma
esplendorosa manhã de domingo, a Praça da Fruta foi ponto de
partida duma visita que começou com a apreciação de “O Polícia”,
uma das peças mais representativas do espólio bordaliano, plena de
expressividade e de riqueza de pormenores num vidrado chamativo. É
também na Praça que iremos encontrar outras peças de carácter
naturalista, tão ao gosto do artista, como “A Tartaruga”, muito
vista em pratos decorativos, “O Caracol”, os “Grupos de
Cogumelos”, “O Sardão” ou “A Folha de Couve”. Mas é
também ali que nos é dado atentar no belíssimo edifício dos
antigos Paços do Concelho, nos pormenores Arte Nova da Nova Padaria
Taboense, da Farmácia Central ou das Ferragens Joaquim Baptista Lda.
ou nos desenhos na calçada portuguesa que pavimenta a Praça, onde
uma colossal serpente parece remeter para a Medicina e para os
poderes curativos das águas termais, cujo Hospital se encontra a
dois passos de distância. É para lá que nos encaminhamos.
Sendo as Termas parte fundamental da
matriz da cidade, era incontornável uma contextualização histórica
junto ao espaço termal, hoje propriedade do Município. Ali se falou
da Rainha D. Leonor e do Rei D. João V, de ossos enferujados e curas
milagrosas, de aquedutos e chafarizes e, claro, do florescimento de
toda uma actividade turística que não dispensou o espaço aprazível
do Parque D. Carlos, a famosa cerâmica e a brejeirice a ela
associada, bem como os nomes da Maria dos Cacos ou de Manuel Gomes
Mafra, verdadeiros percursores da indústria cerâmica das Caldas da
Rainha. De passagem, tempo para apreciar mais algumas peças da Rota
Bordaliana, nomeadamente uma lindíssima “Saloia com Cesto” e uma
curiosa “Aldeia dos Macacos”.
É tempo de continuar a visita,
passando pelo Jardim da Água, obra modernista de mestre Ferreira da
Silva, e do monumental Chafariz das 5 Bicas, ao encontro de uma das
peças mais impactantes deste peculiar roteiro, a “Ama das Caldas”, mulher de sorriso franco e teta farta, para regalo da criança que segura no
colo. Na fachada exterior do Terminal Rodoviário das Caldas da
Rainha, encontramos um enorme conjunto de “Andorinhas”, sob o
olhar atento de um “Gato Assanhado”, réplica agigantada de
modelo de 1884 e exemplar por quem o mestre tinha um particular
apreço. Na Rua Heróis da Grande Guerra, voltaremos a ter um “Gato
a Caçar” e, não muito longe, uma belíssima “Vespa”, um
conjunto de “Sardões” e, no largo fronteiro à Estação de
Caminhos de Ferro, um elegante fontanário onde, sob uma profusão
de repuxos de água, se banha um conjunto de rãs mais pequenas e uma
“Rã Gigante”, no meio de delicados nenúfares. Uma chamada de
atenção para os azulejos que revestem o fontanário, com
influências Naturalistas, Renascentistas, Arte Nova e legado
Hispano-Árabe.
Passa do meio-dia e a visita
aproxima-se do fim, restando três peças para apreciar. Uma delas,
pertencente ao grupo escultórico “O Lobo e o Grou” (uma alegoria
à fábula de Esopo e La Fontaine), designa-se simplesmente “Lobo”
e encontra-se por cima da entrada pedonal do parque subterrâneo.
Aqui, na Praça 5 de Outubro, vale a pena atentar nos vários
edifícios Arte Nova, no trabalho do ferro forjado que decora os
varandins e, sobretudo, nos azulejos padrão e frisos das fachadas. A
cerca de 200 metros, já na Rua Padre António Emílio e por trás da
Igreja de Nossa Senhora da Conceição, encontramos o “Padre Cura”, outra das figuras de movimento criadas pelo mestre.
Para o final, propositadamente, deixamos o popular “Zé Povinho”,
personagem criada por Rafael Bordalo Pinheiro em 1875 no jornal
humorístico “A Lanterna Mágica”, caricatura do passivo povo
português, abusado pelo poder e que, de mãos estendidas, aceita com
resignação a sua sorte. Agora que a visita chega ao fim, percebe-se
que três horas passaram num ápice. Foi uma visita de tal forma
enriquecedora que a recomendamos a todos quantos nutrem pela história
e pela arte um carinho especial. Mas as Caldas não se esgota em
Bordalo, como já se percebeu. Um regresso impõe-se. “Caldas
Histórica”, “Caldas Industrial” ou “Caldas à Mesa” são as propostas que se seguem. Com a Go Caldas, naturalmente!
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