CONCERTO: Salvador Sobral
Casa da Criatividade
27 Set 2019 | sex | 22:00
Fez as honras à cidade que o acolheu
entrando de chapéu em palco, conversou longamente com o público sem
dispensar uma ou outra graçola mas, sobretudo, fez aquilo que melhor
sabe e gosta de fazer, cantando um conjunto de temas inspirados e
plenos de harmonia, dando provas da versatilidade da sua voz e da
qualidade dos seus poemas. Aqui e além deixou-se levar pelo
entusiasmo, é certo, e numa ou noutra canção entrou por caminhos
que só serviram para “estragar”. Mas ele é o artista, o palco é
dele e tem toda a legitimidade para dar azo ao improviso da forma
que muito bem entende. Um registo mais contido seria perfeito, mas aí
não estaríamos a falar de Salvador Sobral.
Acompanhado por uma naipe de
instrumentistas de excelência – Júlio Resende no piano, André
Rosinha no contrabaixo e Bruno Pedroso na bateria -, Salvador Sobral
começou por lembrar o colectivo Buena Vista Social Club, cantando
o mítico “Veinte años” - “Si las cosas que uno quiere / Se
pudieran alcanzar / Tú me quisieras lo mismo / Que veinte años
atrás”. Depois desta “entrada de leão”, tempo para a
apresentação de “Paris, Lisboa”, um álbum lançado em finais
de Março deste ano, e logo com “Presságio”, um dos temas mais
belos do conjunto, sobre poema de Pessoa, e onde se condensam todos
os sabores, aromas, tensões, alegrias e vidas do mais recente
trabalho de Sobral. Seguiu-se “Ela Disse-me Assim”, um
samba-canção composto por Lupicínio Rodrigues no distante ano de
1959 e que conta com um intróito fabuloso de Júlio Resende. Já
“Benjamim” faz brilhar o contrabaixo de André Rosinha e
revela-se como o tema mais jazzy de “Paris. Lisboa”.
Dizem que o amor se canta em francês e
“La Souffleuse” parece confirmá-lo. Este é o tema que precede
outro dos grandes momentos da noite, “Mano a Mano”, com música
de Júlio Resende para um poema de Maria do Rosário Pedreira - “Só
nos resta o mano a mano / Se não queremos ficar sós / Deixa lá o
teu piano / Namorar a minha voz”. Vieram depois os “Cordel”,
com João Pires e Edu Mundo a juntarem as suas vozes e instrumentos à
voz de Salvador Sobral e a oferecerem momentos únicos de deleite em
temas como “Manual da Canção” e o ternurento “Só Um Beijo”,
com assinatura de Luisa Sobral.
O concerto caminha para o final e os
últimos temas repassam o que resta de “Paris, Lisboa”, primeiro
com “Paris, Tokyo II” - é verdade, aquele momento em que Bruno
Pedroso mais e melhor deu mostras do seu inegável talento na bateria
-, e ainda “Playing With the Wind”, antes de fechar com um tema
intemporal, “Ay, Amor!”, do compositor cubano Ignacio Villa, que
todos recordam do filme de Pedro Almodovar, “A Flor do meu
Secreto”, Marisa Paredes no seu melhor. Já no “encore”,
Salvador Sobral veio sozinho a palco e, ao piano, começou por cantar
“Estrada Dividida”, ainda e sempre de Luísa Sobral, para de
seguida oferecer o mais aguardado momento da noite, com a
interpretação desse verdadeiro “hino nacional” que é “Amar
Pelos Dois”. De novo com os músicos em palco, “Ready for Love
Again” foi a excepção, na única abordagem que o cantor fez ao
seu disco de estreia, “Excuse Me”. Mais um belo momento musical a
encerrar da melhor forma uma grande noite na Casa da Criatividade.
[Foto: Júlia Oliveira /
facebook.com/casadacriatividade/]
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