TEATRO: “Alice no País das
Maravilhas”
Encenação | Maria João Luís,
Ricardo Neves-Neves
Adaptação | Ricardo Neves-Neves, a
partir de Lewis Carroll
Cenografia | Ângela Rocha
Interpretação | Ana Amaral,
Beatriz Frazão, Beatriz Maia, Helena Caldeira, Inês Dias, Joana
Campelo, José Leite, Leonor Wellenkamp Carretas, Márcia Cardoso,
Maria João Luís, Patrícia Andrade, Pedro Lacerda, Rafael Gomes,
Sílvia Figueiredo
Produção | Teatro da Terra, Teatro
do Eléctrico
Duração aproximada | 90 minutos,
M/12
Teatro Nacional de S. João
06 Fev 2019 | qua | 19:00
“Alice no País das Maravilhas” é
a obra mais conhecida de Charles Lutwidge Dodgson, publicada em 1865 sob o pseudónimo de Lewis Carroll. Navegando nas águas do nonsense
e do absurdo, o livro acompanha as aventuras de uma menina chamada
Alice que, atraída pela curiosidade para uma toca de coelho, cai e é
transportada para um lugar fantástico, povoado por criaturas
particulares e onde impera uma lógica absurda e paralela à do nosso
quotidiano. Mas isto já todos nós sabemos (ou, pelo menos, quase todos). Graças à riqueza
descritiva de Lewis Carroll, com os olhos da imaginação já
demos por nós a cair em câmara lenta, vezes sem conta, naquele buraco que
parece não mais ter fim, a dar de caras com coelhos brancos sempre apressados, a escutar os conselhos de lagartas dengosas, a tomarmos um chá de loucos, a passearmos no meio de baralhos de cartas ou a ouvirmos um “cortem-lhe a
cabeça” por tudo e por nada. Havia, pois, uma dúvida legítima a pairar na mente do espectador à entrada na sala: Será que isto vai funcionar em palco?
Foi este tremendo risco de desafiar uma história intemporal no reino da fantasia, tão presente nas
mentes de tantos desde que são gente, que Maria João Luís e
Ricardo Neves-Neves aceitaram correr. Pegaram na palavra (falada e
cantada) e fizeram dela, como convém, a base da peça. Trabalharam com enorme cuidado e bom gosto
a componente visual, privilegiando o cenário – genial o artifício cénico de ir transformando o estrado num espelho, dando
ao espectador a possibilidade de apreciar a peça em planos
distintos –, isto sem esquecer as luzes e o som, as imagens em
vídeo e os deliciosos figurinos. Reuniram um extraordinário naipe
de actores, acrescentando-lhes nove músicos em palco, a fazerem
pulsar a peça de energia e vibração. E misturaram o todo com doses
generosas de criatividade, imaginação e muita diversão. Brincaram, brincaram, brincaram... e abriram a brincadeira a um público que não se fez
rogado!
Independentemente das mensagens
subliminares que a peça possa conter – percebemos que o original
constitui um retrato crítico da Inglaterra Vitoriana, numa época em
que começavam a aparecer mulheres fortíssimas, com pensamento, com
atitude -, esta “Alice no País das Maravilhas” é, acima de
tudo, um divertimento extraordinário para miúdos e graúdos. É
impossível ficar indiferente ao tom fantasioso da peça e não
mergulhar no seu universo, tão ricos os detalhes, tão
intrinsecamente ritmada a acção. A partir daqui, é fácil
entrar no jogo, estar em palco ao lado de Alice, mandar um chuto no
rabo do Coelho Branco, gozar com a gaguez do Dodô e, de nariz
empinado, mandar bugiar a Rainha de Copas. Tão fácil como sermos
minúsculos ou gigantes como reflexo das nossas acções.
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