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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

CONCERTO: "Informal", de Paulo de Carvalho



CONCERTO: “Informal”, de Paulo de Carvalho
Casa da Criatividade
02 Fev 2019 | Sáb | 22:00


De Paulo de Carvalho se pode dizer que “quem canta assim canta para a terra inteira”. É este sentimento de cumplicidade fraterna a unir gerações, que mais toca aqueles que o escutam e que percebem a sua música com a emoção de quem a traz inscrita na alma. Uma música que se constitui como parte do nosso património genético e se encontra indissociavelmente ligada a muitos dos acontecimentos marcantes das nossas vidas. Foi isto que se viveu e sentiu, uma vez mais, na Casa da Criatividade, em S. João da Madeira, perante uma sala cheia de gente ávida de recordar temas icónicos e saudar, calorosamente, aquela que é uma das vozes mais carismáticas da música portuguesa. Fazendo dupla pela primeira vez em palco com o pianista Hélder Godinho – “vão pondo o olho no menino, que daqui a uns tempos se calhar vão conhecê-lo melhor” -, Paulo de Carvalho passou em revista muitos dos seus maiores sucessos, intervalados pelo relato de episódios de vida, contados pelo próprio, em ambiente intimista e de forte proximidade com o público. 

Sem seguir propriamente uma linha cronológica definida, o cantor começou por recuar a 1971 e ao Festival RTP da Canção, oferecendo uma intemporal “Flor Sem Tempo” e, saltando um ano apenas, manteve-se nesta linha “festivaleira” com um tema da autoria de Pedro Osório, “Maria Vida Fria”. Estas duas canções permitiram perceber, de imediato, que o alinhamento do concerto iria ao encontro do álbum “Duetos”, lançado com enorme sucesso em finais de 2017, o que viria a confirmar-se. Foi assim com as quatro canções seguintes - “O Cacilheiro”, “O Homem das Castanhas”, “Os Putos” e “Lisboa Menina e Moça”, os seios como colinas, varina, cidade, mulher da minha vida! -, homenageando o autor das suas letras, José Carlos Ary dos Santos, mas também quem as popularizou, Carlos de Carmo. “Um Beijo à Lua” e “Uma Cantiga de Amor” - “(…) que nunca a força falte em nossa mão” - trouxeram o concerto para um tom mais introspectivo, tom esse reforçado com “O Meu Mundo Inteiro”, um tema “dum gajo que lá em casa é o Bernardo, mas que para vocês é o Agir”, esclareceu o cantor. 

Mudando de agulha, Paulo de Carvalho brindou o público com “Sodade”, um verdadeiro hino com sabor a África, popularizado na voz de Cesária Évora. Ainda antes do eterno “E Depois do Adeus”, foi possível escutar um tema tradicional da Beira Baixa, “José Embala o Menino” e também aquele que foi um dos momentos altos do concerto, a “leitura” de um excerto de um poema de Agostinho da Silva, só voz e adufe, “E posto que viver me é excelente / cada vez gosto mais de menos gente”. Para os momentos finais do concerto, Paulo de Carvalho reservaria duas das músicas mais esperadas do público, um novo pulo a África com “Mãe Negra” e “Os Meninos de Huambo”, toda uma plateia à volta da “fogueira” do palco, a aprender “coisas de sonho e de verdade”. Após uma longa ovação de tributo ao cantor, Paulo de Carvalho regressaria ao palco para um único encore com dois novos trunfos na manga, deixando a sala a cantar “Gostava de Vos Ver Aqui” e, sobretudo, “Nini dos Meus Quinze Anos”, o final perfeito duma noite inesquecível. O resto? Bom, o resto é o resto de sempre, as músicas mil vezes trauteadas a rodopiarem na cabeça em turbilhão, muito tempo depois do final do concerto. E muito tempo mais rodopiarão, pela felicidade que convocam, pelo prazer da grande música!

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