CINEMA: “Nunca Deixes de Olhar”
/ “Werk Ohne Autor”
Realização | Florian Henckel von
Donnersmarck
Argumento | Florian Henckel von
Donnersmarck
Fotografia | Caleb Deschanel
Montagem | Patricia Rommel
Interpretação | Tom Schilling,
Sebastian Koch, Paula Beer, Saskia Rosendahl, Oliver Masucci, Cai
Cohrs, Ina Weisse, Evgeniy Sidihkin
Produção | Quirin Berg, Christian
Henckel von Donnersmarck, Florian Henckel von Donnersmarck, Max
Wiedemann
Alemanha | 2018 | Drama, História, Thriller | 188 minutos | M/14
UCI Arrábida 20, Gaia
03 Fev 2018 | Dom | 18:00
Filme de cariz marcadamente intimista,
baseado na história verídica do artista Gerhard Richter, “Nunca
Deixes de Olhar” acompanha a vida do pintor Kurt Barnert ao longo
de quase três décadas, desde criança até à altura em que
encontra o seu próprio tom artístico e logra expor os seus
trabalhos. Nesse entretanto, assiste à ascensão do nacional
socialismo, ao estalar da II Guerra Mundial e à perseguição movida
aos mais débeis que não poupou um elemento da própria família,
entra nas Academia de Artes de Dresden, apaixona-se e casa-se,
consegue escapar para o lado ocidental da Alemanha, mas antes disso
acaba por encontrar, de forma casual o homem que semeou a tragédia e
a dor entre os seus.
Em última análise, estamos perante
uma história sobre a forma como o passado – relembrado no seu todo
ou apenas parcialmente, mas nunca esquecido – subsiste, apesar dos
anos que se vão escoando, dos esforços para o apagar ou da forma
como as pessoas mudam e se vão adaptando. O filme começa por se
debruçar sobre o passado da personagem principal, no que pode ser
entendido como um longo prólogo. As sequências trazem-nos o horror
que, muito em breve, se irá abater sobre o mundo, bem como aqueles
que irão atravessar tão terríveis momentos e, enfim, o pintor, que
irá assumir-se como a figura central do filme, ainda que seja
nebulosa a consciência que tem da sua ligação ao passado, face às
questões prementes que o presente coloca.
Colocando um particular enfoque nos acontecimentos que levaram à prisão e deportação de uma tia de
Barnert, com a qual o pintor estabelecera uma relação de
cumplicidade assaz forte, o argumento faz pairar sobre o filme, como
uma sombra, o terrível capítulo da “solução final” levado a
cabo pelo regime nazi em busca do ideal da pureza da raça. Após uma
primeira parte sem verdadeiras surpresas, o filme de Florian Henckel
von Donnersmarck envereda por caminhos inesperados, visando mais a
independência do espírito do que o ajuste de contas com a História.
Um filme comovente, com um leve toque poético a pontuar a narrativa
e muito bem servido por um elenco de grande nível, cuja justeza
interpretativa oferece a nota de credibilidade a uma obra intensa e
de grande coragem.
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