Páginas

domingo, 3 de fevereiro de 2019

CINEMA: "Nunca Deixes de Olhar"



CINEMA: “Nunca Deixes de Olhar” / “Werk Ohne Autor”
Realização | Florian Henckel von Donnersmarck
Argumento | Florian Henckel von Donnersmarck
Fotografia | Caleb Deschanel
Montagem | Patricia Rommel
Interpretação | Tom Schilling, Sebastian Koch, Paula Beer, Saskia Rosendahl, Oliver Masucci, Cai Cohrs, Ina Weisse, Evgeniy Sidihkin
Produção | Quirin Berg, Christian Henckel von Donnersmarck, Florian Henckel von Donnersmarck, Max Wiedemann
Alemanha | 2018 | Drama, História, Thriller | 188 minutos | M/14
UCI Arrábida 20, Gaia
03 Fev 2018 | Dom | 18:00


Filme de cariz marcadamente intimista, baseado na história verídica do artista Gerhard Richter, “Nunca Deixes de Olhar” acompanha a vida do pintor Kurt Barnert ao longo de quase três décadas, desde criança até à altura em que encontra o seu próprio tom artístico e logra expor os seus trabalhos. Nesse entretanto, assiste à ascensão do nacional socialismo, ao estalar da II Guerra Mundial e à perseguição movida aos mais débeis que não poupou um elemento da própria família, entra nas Academia de Artes de Dresden, apaixona-se e casa-se, consegue escapar para o lado ocidental da Alemanha, mas antes disso acaba por encontrar, de forma casual o homem que semeou a tragédia e a dor entre os seus.

Em última análise, estamos perante uma história sobre a forma como o passado – relembrado no seu todo ou apenas parcialmente, mas nunca esquecido – subsiste, apesar dos anos que se vão escoando, dos esforços para o apagar ou da forma como as pessoas mudam e se vão adaptando. O filme começa por se debruçar sobre o passado da personagem principal, no que pode ser entendido como um longo prólogo. As sequências trazem-nos o horror que, muito em breve, se irá abater sobre o mundo, bem como aqueles que irão atravessar tão terríveis momentos e, enfim, o pintor, que irá assumir-se como a figura central do filme, ainda que seja nebulosa a consciência que tem da sua ligação ao passado, face às questões prementes que o presente coloca.

Colocando um particular enfoque nos acontecimentos que levaram à prisão e deportação de uma tia de Barnert, com a qual o pintor estabelecera uma relação de cumplicidade assaz forte, o argumento faz pairar sobre o filme, como uma sombra, o terrível capítulo da “solução final” levado a cabo pelo regime nazi em busca do ideal da pureza da raça. Após uma primeira parte sem verdadeiras surpresas, o filme de Florian Henckel von Donnersmarck envereda por caminhos inesperados, visando mais a independência do espírito do que o ajuste de contas com a História. Um filme comovente, com um leve toque poético a pontuar a narrativa e muito bem servido por um elenco de grande nível, cuja justeza interpretativa oferece a nota de credibilidade a uma obra intensa e de grande coragem.

Sem comentários:

Enviar um comentário