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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

CINEMA: "Cafarnaum"



CINEMA: “Cafarnaum” / “Capernaum”
Realização | Nadine Labaki
Argumento | Nadine Labaki, Jihad Hojeily, Michelle Keserwany
Fotografia | Christopher Aoun
Montagem | Konstantin Bock
Interpretação | Zain Al Rafeea, Yordanos Shiferaw, Boluwatife Treasure Bankole, Kawsar Al Haddad, Fadi Yousef, Alaa Chouchnieh
Produção | Michel Merkt, Khaled Mouzanar
Líbano, França | 2018 | Drama | 126 Minutos | M/12
UCI Arrábida 20 | Sala 7
18 Fev 2019 | seg | 16:05


Todos os filmes de Nadine Labaki constituem um olhar sobre o multi-facetado Líbano. Quer seja na belíssima crónica social “Caramel” (2007) ou no grito de denúncia das tensões religiosas “E Agora, Onde Vamos?” (2011), a realizadora filma o seu país em toda a sua complexidade. Situado há longas décadas no cerne de alguns dos maiores conflitos à escala mundial, este pequeno Estado é hoje um anexo do desastre sírio, recebendo o embate desmesurado de refugiados a cada dia. Um drama que potencia os excessos inerentes a todas as grandes megacidades: os maus tratos na infância, a imigração ilegal, a miséria extrema, a delinquência, a escravatura ...

No submundo de Beirute, Zain nunca soube o que era ser criança. Procurando escapar à miséria que o cerca, parte sem destino acabando por descobrir que a sordidez, o despudor e a imoralidade estão por todo o lado. Nadine Labaki observa esta miséria de perto. Durante mais de dois anos, mergulhou nos bairros de lata de Beirute, testemunhando o destino de muitas crianças que aqui vivem abandonadas à sua sorte. Em busca de autenticidade, muitos dos intérpretes de “Cafarnaum” foram recrutados nos locais onde o próprio filme se desenrola. A história é ficcionada, mas a origem daquelas pessoas e o seu destino é bem real (uma das personagens foi mesma presa durante as filmagens por se encontrar na situação de clandestina e, não fora a intervenção da realizadora, teria acabado por ser deportada).

Impulsionado pelas vivências dos actores, este drama moderno agarra o espectador pelas tripas desde as primeiras imagens. Reflexivo e preciso, o filme impõe a força do documentário mas mantém uma enorme elegância na linha narrativa que adopta. Inteligentemente construído, o argumento denuncia uma raiva fria que nunca abandona o olhar do pequeno Zain. Um olhar atento, através duma lente que acompanha o sujeito em vez de o espiar, que o respeita em vez de o julgar. Somos então espectadores cativos e profundamente emocionados com a determinação deste rapazinho que, do alto dos seus doze anos, se bate como um leão para salvar a pele e, sobretudo, a dos mais fracos que o rodeiam. Esta personagem, visceralmente incarnada por um talentoso jovem refugiado sírio, revela-se brutal na sua verdade, valorizando ainda mais um produto cinematográfico apurado e sensível. Galardoado com o Prémio do Júri no 71º Festival de Cannes, “Cafarnaum”, este é um dos mais extraordinários filmes produzidos em 2018, sendo de visão absolutamente obrigatória!

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