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domingo, 11 de novembro de 2018

CONCERTO: Luisa Sobral



CONCERTO: Luisa Sobral
Novembro Jazz
Casa da Criatividade, S. João da Madeira
09 Nov | sex | 22:00


“Se um dia alguém, perguntar por mim / Diz que vivi para te amar / Antes de ti, só existi / cansado e sem nada para dar”. É aqui, à entrada do refrão de “Amar pelos Dois”, que Luisa Sobral, vendo a plateia sem reacção, interrompe a sua interpretação e, entre o espantado e o indignado, diz que “as pessoas de S. João da Madeira não conhecem esta canção”. À provocação respondeu o público da forma mais assertiva, acompanhando a cantora, com entusiasmo, neste verdadeiro “hino nacional”; mas fazendo-o, digo eu, mais para lhe agradar do que por outra coisa. Por vontade própria, continuaria em silêncio, saboreando um tema que pede para ser ouvido como uma oração, em recolhimento, não apenas pela letra e pela forma sublime como Luisa Sobral o interpreta, mas também porque remete para tão gratas recordações, daquelas que nos fazem ter orgulho em sermos portugueses.

Foi este o mote do concerto: Uma Luisa Sobral com uma voz que é um verdadeiro monumento, os acordes de Mário Delgado, nas guitarras, a vestirem de sonoridades incríveis os lindíssimos poemas e, nos intervalos, o diálogo aberto com o público, revelador do verdadeiro prazer de com ele partilhar a noite em S. João da Madeira. Uma noite especial, diga-se, não apenas pela lotação esgotada da sala, o que é sempre uma motivação extra para qualquer artista, mas também porque aconteceu no dia em que o seu mais recente álbum de originais, “Rosa”, foi editado. Ao longo de uma hora e meia, “Rosa” foi a estrela da noite, mas Luisa Sobral não esqueceu os seus trabalhos anteriores, tendo presenteado o público com “Paspalhão”, do seu álbum anterior “Luísa” (2016), logo a abrir o concerto, aos quais foi acrescentando “Cupido”, do mesmo álbum, o divertido “João”, do álbum “Lu-Pu-I-Pi-Sa-Pa” (2014), o incontornável “Inês”, do seu segundo álbum, “There's a Flower In My Bedroom” (2013), imortalizado em dueto com António Zambujo, e ainda o popularíssimo “Xico”, do primeiro álbum da cantora, “The Cherry On My Cake” (2011), “a minha primeira música a passar na rádio”, lembrou a propósito.

“Rosa” é, contudo, um caso à parte. Foi-o no concerto, cada tema a brilhar de forma intensa e a abrir portas para o mundo pessoal da cantora, e é-o no álbum agora editado, declaradamente um marco na carreira de Luisa Sobral, pela sua força e verdade, pelo notável trabalho ao nível das letras e dos arranjos, pela beleza simples e delicada harmonia que dele emana. É difícil adjectivar temas como “Querida Rosa”, “Benjamim” ou “O Melhor Presente”, nos quais Luisa Sobral releva o amor pelos seus dois filhos – os pequeninos José e Rosa -, oferecendo-lhes um presente de valor inestimável em forma de música. E que dizer de “Nadia”, o tema de abertura deste último trabalho e que reflecte sobre a dura realidade dos migrantes que tentam chegar à Europa a todo o custo? Ou ainda da ternura que se desprende de “Mesma Rua Mesmo Lado”, “O Verdadeiro Amor”, “Dois Namorados” ou “Envergonhado”, este último cantado já no “encore”? Ao contrário do que seria suposto, este foi um concerto completamente à margem do jazz, o que acabou por se revelar um pormenor de somenos, de tal forma a noite se revelou intensa e bela. Imperdoável será, sobretudo para aqueles que perderam a oportunidade duma noite única, não correrem para as bancas a comprar o CD. É verdadeiramente único!

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