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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "O Pejão... 20 Anos Depois"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “O Pejão… 20 Anos Depois”,
de Pereira Lopes
iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes
Antiga Escola do Palheirinho, Avintes
12 Out > 11 Nov 2018


“(...) No poço Maria Luisa
Morreram doze mineiros, olha
Olha a minha vida, olha
Olha como venho eu

Cinco eram picadores
Cinco eram entivadores
E dois eram marteleiros, olha
Olha a minha vida, olha
Olha como venho eu (...)”

[Excerto de “Hino dos Mineiros”]


Seguindo o destino das Minas de São Pedro da Cova, da Companhia de Carvões do Cabo Mondego ou das Minas de Lenhite de Rio Maior, as Minas do Pejão viram os seus portões fecharem-se nos últimos dias de 1994. Ao longo de 108 anos de actividade contínua, esta foi a mais importante exploração de carvão da chamada Bacia Carbonífera do Douro, assumindo-se como a principal referência identitária, não só do concelho de Castelo de Paiva, mas de toda a região. Ditado pela lógica da concorrência, assente em critérios economicistas e sustentado pela insensibilidade do Governo de Aníbal Cavaco Silva, o encerramento das Minas foi dramático, lançando centenas de pessoas no desemprego, numa zona deprimida, que vivia à custa da mina e onde não havia mais nada.

Vinte anos volvidos sobre o fecho das minas, o fotógrafo avintense Pereira Lopes embarcou num projecto pessoal de recuperação de estórias e memórias, ao encontro da “família do Pejão”. Foram dez meses de preparação, aos quais se juntaram outros tantos de trabalho de campo, daí resultando “O Pejão… 20 Anos Depois”, conjunto de belíssimas fotografias a preto e branco, acompanhadas da edição do livro “... 20 Anos Depois”, e que estiveram na origem duma exposição inaugurada nas instalações do Centro de Interpretação da Cultura Local, em Castelo de Paiva, em Outubro de 2015. Em itinerância, a exposição passou entretanto por Avintes, Aveiro, Lourosa, Vila do Conde e Ribeira Grande, entre outros, regressando agora a Avintes, à antiga Escola do Palheirinho, naquele que é o quinto e último capítulo das “Propostas Fotográficas 2018” do Festival iNstantes. São 20 os retratos que podem ser apreciados nesta mostra, não apenas daqueles que trabalharam no fundo da Mina, mas também de outros que a ela estão indelevelmente ligados, que são fruto da sua estrutura sociocultural e para quem hoje o legado mineiro tem um valor, sobretudo, enquanto memória colectiva.

Olhar nos olhos o Bloca, o Chasco, o Político, a Deolinda do Aido, a Emilia da Gusta, o Casoto, o Manel 29 ou o Pissalho, é ler em cada um deles o desencontro de sentimentos temperados pela dureza da vida e do trabalho, com jornadas de oito horas e meia por dia, todos os dias, todos os meses e todos os anos no inferno a mais de 400 metros de profundidade, os pulmões carregados de sílica, a morte sempre à espreita. É “ver caras e ver corações”, a incompreensão e a revolta apaziguadas mas latentes, a resignação de quem sabe que Lisboa fica tão longe. É mergulhar numa realidade que se vai repetindo de forma cíclica e nos remete para o pesadelo recente da austeridade em nome do défice, as ondas de choque a fazerem-se sentir ainda hoje, tão pouco desvanecidas por uma “geringonça” que não passa disso mesmo. Daqui a 20 anos, alguém se lembrará de fotografar os sobreviventes da troika e verá nos mesmos rostos, na mesma raiva e na mesma aceitação, o Pejão de sempre. Até lá temos Pereira Lopes e o seu olhar sensível e profundamente humano. Para ver, até 11 de Novembro!


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António Manuel PEREIRA LOPES nasceu no Porto, a 1 de outubro de 1955. Naquela época, os avintenses começavam a nascer fora de portas. Ao fim de 11 dias, já recuperado do nascimento, foi viver para Avintes. Até hoje. Começa a fotografar, de forma sistemática, em 2005. Em 2007, faz um Curso de Fotografia, no IPJ do Porto. Em 2008, é convidado pelo Instituto Português de Fotografia a participar no livro “Olhares”. Em fevereiro de 2011, participou na sua primeira exposição colectiva, na Galeria Olhos d'Arte, no Porto. A primeira exposição individual aconteceu na mesma galeria, em setembro de 2011. Nesse ano foi coautor do livro “Árvores”. Em 2014, foi o autor das fotografias do livro “20 Poemas em remanso”, com poesia de Carmen Muñoz. Em Setembro de 2015, foi editado o livro “... 20 Anos Depois” com retratos de antigos funcionários da Empresa Mineira do Pejão. Em novembro de 2015, foi lançada uma 2ª edição. Autor da capa do livro de poesia “Poemas à flor da pele”, de Carmen Muñoz, em Dezembro de 2015 e da capa da revista Arte Fotográfica #76. Em 2016, foi coautor do livro “20 retratos a cores”. Já realizou mais de 60 exposições em Portugal, Espanha, França e Chipre. Faz parte do Halo – Colectivo de Fotografia. Organiza o PicNic Arte. Organiza o adverso – Festival de Poesia de Avintes. Fundador e director do iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes.

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