CONCERTO: “A Northern Wind”
Orquestra de Jazz de Espinho |
Julian Argüelles
Direcção Musical | Daniel Dias,
Paulo Perfeito
Auditório de Espinho – Academia
19 Out 2018 | sex | 21:30
O público atento ao
fenómeno do Jazz saberá que Julian Argüelles é um dos mais
reconhecidos compositores, arranjadores e instrumentistas da
actualidade. Nascido em Lichfield, Staffordshire (Reino Unido), a sua
carreira de saxofonista teve início em finais da década de 70, mas só em 1991
lançou o seu primeiro álbum como líder. Ao todo conta no currículo
com 14 álbuns a título pessoal e inúmeras colaborações com nomes
tão sonantes como os de Archie Shepp, Hermeto Pascoal, Dave Holland,
Carla Bley, Kenny Wheller ou Django Bates. Foi precisamente esta figura enorme do mundo do jazz que esteve em palco ontem à
noite, no Auditório da Academia de Música de Espinho, para o
concerto “A Northern Wind”, com a Orquestra de Jazz de Espinho. E
que bem que (se) esteve!
“You See, My Dear?”, suave balada
que Argüelles escreveu para a sua “mais que tudo”, abriu o
concerto da melhor forma, o artista a recuperar este tema do álbum
“Momenta” (2009). Seguiu-se “Phaedrus”, tema que dá nome ao
seu primeiro álbum, alguns preciosos momentos de Free Jazz a permitirem evidenciar a qualidade do solista. Os ritmos quentes da África do Sul viriam com “Mama
Marimba”, uma composição de Johnny Dyani, com arranjos de
Argüelles e, já no final, com “Mandisa”, um tema que Chris
McGregor popularizou com essa verdadeira irmandade de virtuosos que
foram os “seus” Brotherhood of Breath. Tempo ainda de escutar “Such
Sweet Madness” e uma sequência de diálogos de metais
absolutamente estonteante, de sentir uma fresca brisa da Escandinavia
em “Charm Defensive”, uma das últimas encomendas para a banda
Phronesis, com a Frankfurt Radio Big Band e que integra o álbum
“The Behemoth” (2017) ou de vibrar com a intensidade e energia da
música de Argüelles em “Hi Steve” e “Evan's Freedom Pass”,
piano, bateria e vibrafone a imporem o ritmo e a mexerem com o
público.
Aquilo que de mais emocionante teve este concerto foi a enorme sensibilidade, generosidade e humildade
de Julian Argüelles, um artista que não vê a Orquestra como um apêndice mas como um parceiro cúmplice e comprometido, que se “apaga” sempre que sente que é importante dar espaço
ao conjunto e que deixa a sua genialidade vir ao de cima em momentos a
solo absolutamente sublimes. Esta atitude profundamente pedagógica,
apenas possível numa pessoa que ama a música e a coloca acima de
tudo, permitiu perceber a importância e o alcance desta parceria
entre a Orquestra e o seu convidado, a sua riqueza em termos de aprendizagem e o notável trabalho e dedicação dos professores Daniel Dias e Paulo Perfeito, verdadeiras âncoras dum agrupamento com tanto de juventude como de virtuosismo.
E se Julian Argüelles e a sua passagem por Espinho dificilmente se
apagarão da memória, importa igualmente reter os nomes de Pedro
Jerónimo, Rui Bandeira, João Sequeira, Pedro Mendes, João Cunha ou
Diogo Dinis. Todos eles são exímios instrumentistas e, seguramente,
muito em breve estarão aí a dar cartas no mundo do Jazz.
[Foto: André Gomes /
facebook.com/auditoriodeespinhoacademia]
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