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domingo, 27 de maio de 2018

TERTÚLIA: "Conversas Úteis", com Eugenia Rico



TERTÚLIA: “Conversas Úteis”,
com Eugénia Rico
Museu de Ovar
26 Mai 2018 | sab | 21:30


Eugenia Rico foi a convidada de Maio das “Conversas Úteis”, conjunto de tertúlias literárias promovidas pelo Museu de Ovar e particularmente vocacionadas para o campo das letras. Como habitualmente, a moderação esteve a cargo de Carlos Nuno Granja e, uma vez mais, o saldo foi deveras positivo, de tal forma a escritora abriu ao público a sua cumplicidade e encanto, o seu requintado sentido de humor e a sua visão clara e acutilante sobre o mundo actual, e em particular no que à literatura diz respeito.

Nascida em Oviedo, Eugenia descobriu que queria ser escritora com cinco anos de idade, tendo publicado o seu primeiro conto aos onze. Os estudos em Direito e Relações Internacionais levaram-na a França e à Bélgica, mas os livros acabaram por falar mais alto e, em 2000, publica o seu primeiro romance, “Los Amantes Tristes”, o primeiro duma trilogia que prosseguiria com “La Muerte Blanca” (2002) e “La Edad Secreta” (2004). Tem, até hoje, nove livros publicados, quatro dos quais traduzidos para português, sendo “Los Amantes Tristes” / “Os Amantes Tristes”, a sua publicação mais recente no nosso País. Apresentado na Fundação José Saramago no passado dia 23 de Maio de 2018, “Os Amantes Tristes” estiveram na origem da vinda da escritora a Portugal e, num programa recheado de grandes acontecimentos, a passar pela nossa cidade para uma agradável troca de impressões e partilha de algumas curiosidades e experiências com o público ovarense. A acompanhá-la esteve Marcelo Teixeira, dirigindo também ele algumas palavras ao público e enriquecendo a tertúlia com a sua visão de tradutor e editor desta obra.

“Há muitas maneiras de matar um homem, mas uma das mais tremendas é impedi-lo de dormir. O homem não morre por não poder descansar, mas sim por não poder sonhar. Sempre que uma Nação conquista a sua independência, é dos artistas que se socorre para que sonhem os seus jovens ideais. Precisamos de artistas que sonhem o sonho dos povos.” Com estas palavras, Eugenia Rico começou por colocar-se a si e ao conjunto da sua obra no campo dos sonhos e explicou por que é que pensa poder oferecer-se a si própria o “luxo” de escrever: “Durante muito tempo não me foi fácil entender o sentido de escrever quando há tanta gente que não sabe sequer ler. Com o tempo acabei por perceber que tudo o que escrevemos é para sempre, existirá para lá de nós. Escrever é parte dum caminho de evolução para a Humanidade.”

Quanto à sua escrita, dum ponto de vista formal, Eugenia Rico gosta de se comparar a um argumentista (talvez ao facto não sejam alheios os seus estudos em Arte Dramática e Guionismo para Cinema, que cursou sob a direcção de Fernando Trueba). “O escritor faz o guião mas é ao leitor que cabe o papel de realizador. É ele quem determina que os tempos sejam mais lentos ou mais breves, quem faz o casting. Quando escrevo, deixo espaços no livro para que o leitor os possa completar. O verdadeiro detective é o leitor porque só o leitor sabe o que acontece verdadeiramente”, revela a escritora. Particularmente em relação a “Os Amantes Tristes”, Eugenia Rico confessou que, antes de o publicar, tinha páginas e páginas escritas guardadas na gaveta, associando a decisão de avançar com a sua publicação a um episódio marcante na sua vida, uma infeção num pé que resultou num delicado regresso a Madrid e numa intervenção complexa. Num mercado enorme e particularmente competitivo como o espanhol, foram muitas as portas que, no início, se fecharam à escritora. Mas a sua persistência acabou por dar frutos e ela é hoje um dos nomes importantes das letras no país vizinho, com obra editada na Alemanha, Itália, Grécia, Bulgária, Holanda, Rússia, Estados Unidos, México e Brasil.


P. S. - Para a parte final da tertúlia estava guardada uma enorme surpresa, a da descoberta em Ovar do primeiro leitor português de “Os Amantes Tristes”. Importará aqui referir que o leitor sou eu e que a minha recensão crítica ao romance de Eugenia Rico será publicada já de seguida. Aí se desvendará um pouco daquilo que constituiu uma particular conversa com a escritora, um momento privilegiado de partilha e conhecimento e que guardarei com especial carinho.

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