Páginas

domingo, 29 de abril de 2018

TERTÚLIA: "Conversas Úteis", com Rodrigo Costa



TERTÚLIA: “Conversas Úteis”,
com Rodrigo Costa
Museu de Ovar
28 Abr 2018 | sab | 15:00


Em mais um momento de “Conversas Úteis”, a tertúlia que teve lugar na tarde de hoje trouxe ao encontro do público o pintor Rodrigo Costa, cuja exposição “Entre a Síntese e o Detalhe” pode ser presentemente apreciada na Sala dos Fundadores do Museu de Ovar. Ainda que o artista tenha na literatura um dos focos da sua atenção, a conversa decorreu à margem dos livros o que, não sendo inédito, é pouco usual num espaço de conhecimento e debate que tem sabido promover e consolidar, junto do público ovarense, o gosto pelas artes e pela leitura, em particular. Inédito, sim, como fez questão de salientar o Diretor do Museu de Ovar, Professor Manuel Cleto, foi o facto de termos tido Joaquim Margarido no papel de moderador, ao invés de Carlos Nuno Granja, a alma e o rosto habitual destas conversas.

Inaugurada no passado dia 14 de Abril, “Entre a Síntese e o Detalhe” permitiu comprovar as naturais expectativas criadas em torno da exposição, confirmadas uma semana mais tarde com a realização dum workshop de pintura com modelo, ao longo do qual foi possível ao público perceber a forma como razão e emoção coexistem na génese e decurso do processo criativo. Daí que esta conversa com Rodrigo Costa, direccionada para o artista e a sua obra, se tenha revelado particularmente útil, dando a possibilidade de completar muito do que ficou por dizer nos dois importantes momentos anteriores e revelando, no fascínio da Arte, o fascínio da própria Vida.

A leitura de “... Em Aranjuez... Em Aranjuez, Meu Amor!...”, poema da autoria do artista, superiormente declamado pela poetisa Aurora Gaia, serviu de mote para o arranque da conversa, ao encontro do processo de criação artística e do rejuvenescimento do olhar do pintor a cada dia que passa, convocando a eterna juventude. Ainda no domínio do etéreo, sem confundir espiritualidade com religiosidade, o pintor assumiu sem rodeios a sua fé na existência duma entidade superior - “chamemos-lhe Deus, se quisermos”, disse –, perturbadora porque imaterial mas profundamente presente na sua pintura. Uma entidade que, à revelia da razão, dita decisivamente o nascimento e desenvolvimento da obra, dirigindo a cor e orientando o traço.

Entre “chamados” e “escolhidos” - com Joaquim Margarido a citar o Evangelho Segundo S. Mateus para lançar novas questões -, o artista teve a oportunidade de contextualizar aquilo que é para si a inspiração e de, recordando os primórdios da sua carreira, falar da inquietação que, desde muito cedo, tomou conta de si e das dúvidas que, em matérias tão importantes como o ensino da arte, a sua promoção e o seu comércio, nunca se desfizeram, antes se avolumaram. “Para se elevar, basta ao artista valer-se da sua obra, sem precisar de apoucar o outro”, é apenas uma de várias afirmações de Rodrigo Costa, reveladoras do seu desconforto face à incompreensão, aos interesses instalados, ao servilismo e à mediocridade que tomou conta da sociedade em geral.

A parte final desta interessante conversa ficou marcada pelas questões colocadas pelo público mas, sobretudo, pelos testemunhos de Eulália Gonçalves, autora do texto de apresentação do catálogo da exposição “Entre a Síntese e o Detalhe”, Aurora Gaia, Medeia - modelo “respeitosamente desrespeitado”, e ainda Elizabeth Leite, pintora em ascensão e admiradora confessa da obra de Rodrigo Costa. Perante figura tão singular, tão rica de experiências, tocante de sinceridade e frontalidade, tão apaixonada pela vida, foi muito o que ficou por dizer. Mas sosseguem-se os espíritos porque a história não acaba aqui. Até ao próximo dia 12 de Maio, data do encerramento da exposição, lugar ainda a dois workshops de pintura com modelo, o primeiro dedicado à técnica de pintura a carvão (5 de Maio) e o segundo dedicado à técnica a óleo (dia 12 de Maio). Neles, o espaço de diálogo será sempre privilegiado e a conversa útil voltará, certamente, a acontecer. A não perder, portanto!

Sem comentários:

Enviar um comentário