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domingo, 29 de abril de 2018

CONCERTO: "70 anos de Vida e 50 de canções", de Fernando Tordo



CONCERTO: “70 anos de Vida e 50 de Canções”,
de Fernando Tordo
Casa da Música, Porto
27 Abr 2018 | sex | 21:30


Fernando Tordo subiu, na noite da passada sexta feira, ao palco da Casa da Música. Com ele trouxe as memórias que marcam uma impressionante carreira, os caminhos trilhados, os artistas com quem se cruzou e uma “colheita seleccionada” dum vasto repertório que se estende por mais de 600 canções. Com ele trouxe também quatro convidados muito especiais – Rita Redshoes, Anabela, Filipe Manzano Tordo e Ricardo Ribeiro -, o amigo e admirador Jorge Gabriel, a quem coube a apresentação do cantor e ainda um octeto de cordas e metais onde se destacaram Lino Guerreiro e Valter Rolo, dois arranjadores fundamentais na dinâmica deste concerto e dum disco de duetos que se avizinha. A isto respondeu o público com a sua presença e entusiasmo, enchendo por completo o vasto auditório da Casa da Música e não se cansando de aplaudir o cantor.

O início do concerto fez-nos recuar a 1979 e ao álbum “Fazer Futuro”, com o cantor à conversa com o público e a explicar “Como Se Faz Uma Canção”. O momento, de grande naturalidade, deu o mote ao que viria a seguir, com Fernando Tordo a trazer para o palco a sua enorme experiência de 54 anos de cantigas e a revelar-se um extraordinário conversador. Tanto assim que “Meu Corpo”, o segundo momento da sua actuação e que constituiu uma homenagem a Beatriz da Conceição, mereceu um pedido a Rui Moreira, o Presidente da Câmara Municipal do Porto, para que encontrasse “uma ruazinha, uma viela, um beco” ao qual pudesse dar o nome desta enorme mulher do fado e do Porto.

“Cavalo à Solta”, “Balada Para Os Nossos Filhos”, “Estrela da Tarde”, “Novo Fado Alegre” ou “Tourada”, permitiram perceber o quão representativo é Fernando Tordo no cancioneiro da música portuguesa mas, sobretudo, o quão indissociáveis são as suas canções das letras de José Carlos Ary dos Santos, o poeta rebelde, empenhado, apaixonado por causas e pessoas, que nos deixou há 34 anos. Isso mesmo fez questão de vincar, prestando-lhe o maior dos elogios “por ter sido – e continuar a ser (!) - a única pessoa no mundo a fazer letras sobre músicas já feitas”. As histórias de cada música, contadas sem rodeios e sempre com um toque de humor e amor à mistura, fizeram as delícias dum público atento, interessado e emocionado com tamanha sinceridade e cumplicidade.

Num concerto emotivo, delicado e com um forte cheiro a Abril - “... não é por mais nada, é só por causa da Liberdade!”, disse Fernando Tordo a certa altura -, com tanto mais que haveria por dizer, valerá a pena registar para memória futura três momentos absolutamente únicos: A interpretação de “Estrela da Tarde”, em dueto com Ricardo Ribeiro, a leitura dum poema da sua autoria, “Painel”, no qual se evoca “Ribeira Negra” e, na figura de Mestre Júlio Resende, se homenageiam as gentes do Porto e, pela sua delicadeza e significado, a presença em palco de Filipe Manzano Tordo, filho do cantor, a interpretar “Intermezzo”, uma peça para piano da autoria de Nicolai Kapustin. Tempo ainda, no final, para uma sessão de autógrafos do álbum “Outro Canto”, pelo qual Fernando Tordo foi distinguido em 2017 pela Sociedade Portuguesa de Autores com o Prémio Pedro Osório. Concerto memorável, este, que para sempre perdurará nos corações de quem a ele teve o privilégio de assistir!

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