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domingo, 21 de janeiro de 2018

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Fernando Pessoa"



EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Fernando Pessoa”,
de Joakin Pereyra
Biblioteca Municipal de Estarreja
20 Jan > 14 Fev 2018


Não conduz, apesar de ter carta, não sabe falar para a rádio, afirma-se um rebelde e gosta de ser polémico. Assim é Joakin Pereyra, artista plástico nascido há 65 anos em Estarreja e com um percurso artístico de mais de meio século, repartido entre a pintura e a escultura. É dele a exposição agora patente na Biblioteca Municipal de Estarreja, intitulada “Fernando Pessoa” e na qual o artista apresenta, numa vintena de obras diversas, a sua visão do mais universal poeta português.

Lê-se nas obras de Joakin Pereyra a mesma liberdade de expressão que se lê no Pessoa poeta, no Pessoa prosador, dramaturgo, criador de charadas, inventor ou no Pessoa Íbis do Egito. Ora atentas ao detalhe, minuciosas, precisas, ora livres e soltas, desprendidas, informais, nelas cabem todos os sonhos do mundo. Abertas à apreciação e interpretação do espectador, as obras tendem a mostrar um Pessoa sonhador com a Ria de Aveiro no horizonte, um Pessoa tornado volátil no fumo que se desprende duma chávena de café, um Pessoa-silhueta apenas pressentido na noite lisboeta, um Pessoa reduzido à sua mão direita ante um poema inacabado ou mesmo “um outro Pessoa”, que mais não será que o auto-retrato do pintor, ele que se afirma “um bocado Pessoa”. Mas é no seu conjunto, na forma como se “cosem” os múltiplos fragmentos do poeta e se reconstrói um Pessoa ortónimo, que reside a grande força desta exposição.

Como afirma Alberto Caeiro, “uns agem sobre os homens como o fogo, que queima neles todo o acidental, e os deixa nus e reais”. Assim é Joakin Pereyra, naquilo que tem de mais autêntico: a sua frontalidade, a necessidade de denunciar, o génio provocador. Impregnadas destes atributos, as suas obras são como abanões a uma sociedade amorfa e conformista, desabituada de pensar, incapaz de se corrigir. Uma oportunidade, pois, para conhecer este artista interventivo e multifacetado - e de, no seu traço, intuir Fernando Pessoa, naquilo que nele pode haver de mais consciente, mas também de mais absurdo e perturbador -, aquela que se oferece na Biblioteca Municipal de Estarreja. Até ao dia 24 de Fevereiro.

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