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domingo, 21 de janeiro de 2018

TERTÚLIA: "Conversas Úteis", com António Canteiro



TERTÚLIA: “Conversas Úteis”,
com António Canteiro
Museu de Ovar
20 Jan 2018 | sab | 21:30


Com a festa na rua em noite de abertura do Carnaval de Ovar, foi no aconchego da Sala dos Fundadores do Museu de Ovar que se fez a verdadeira festa, a da palavra, a que alimenta o espírito e faz viver. António Canteiro foi o convidado de honra desta primeira sessão de 2018 do “Conversas Úteis”, tertúlia à roda dos livros, como de costume moderada por Carlos Nuno Granja. Nela, o autor falou dos seus romances, do processo criativo que a eles preside, mas sobretudo das suas experiências de vida, dos momentos de alguma forma marcantes e que se encontram na génese das suas histórias, da sua poesia. “Os escritores são ladrões”, referiu a este propósito, dando como exemplo o seu último romance, “A Luz vem das Pedras”, nascido em 2012, em grande medida surgido de uma história escutada a uma idosa de S. Caetano, Cantanhede, a sua terra natal. Outro exemplo advém do seu trabalho como Técnico Superior de Reinserção Social no Estabelecimento Prisional de Aveiro, com a consulta das peças processuais a poderem dar um valioso contributo à ficção que faz. “O António Canteiro vive muito do João Cruz enquanto Técnico”, remata.

“Escrevo os livros aos bocados e depois junto-os todos e dou-lhes lógica, coerência”, refere o autor a propósito dum processo de escrita que pode, nesta fase crucial de, “das partes, dar forma ao todo”, “demorar um mês, um mês e meio”. “A escrita vai-se fazendo; o labor é infinito, sublinha. Mas é nas partes que se detém, relevando a importância de ouvir as histórias e de ajustar por palavras aquilo que é o dia a dia. Designa isso por “invenção a partir do real” e, da mesma forma, define a sua escrita como “ficção para além do real”, confessando que “um romance escreve-se ao longo dos anos e a partir de muitas experiências de vida”.

Com a sessão a caminhar para o fim, tempo para falar de poesia, um assunto tão grato ao escritor. E logo uma revelação: “Tento meter poesia na prosa, sob a forma de uma carta escrita, por exemplo.” Como que a sublinhar as suas palavras, lê um excerto de “A Luz vem das Pedras”, precioso pedacinho de prosa que acabou por ganhar a sua “emancipação”, indo integrar “Na Luz das Janelas Pestanejam as Sombras”, o seu livro de poemas que, em 2015, foi galardoado com o Prémio de Poesia Bocage. Tempo ainda para confidenciar ao auditório que “ouvir as histórias aos outros é uma forma de os libertar dum peso que carregam, da mesma maneira que verter essas mesmas histórias nas páginas dos meus livros funciona, para mim, como uma libertação”. Daí que, um dia, não irá perder tempo a escrever as suas memórias: “Os meus livros são as minhas memórias, todos eles são um registo das coisas que me acompanham”, conclui.


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António Canteiro, pseudónimo literário de João Carlos Costa da Cruz, nasceu em 11 de Outubro de 1964 na freguesia de S. Caetano, concelho de Cantanhede. Técnico Superior de Reinserção no Estabelecimento Prisional de Aveiro, inicia atividade literária em 2005, com “Parede de Adobo”, Menção Honrosa do Prémio Carlos de Oliveira; “Ao Redor dos Muros”(Gradiva) venceu o Prémio Alves Redol, em 2009; “Largo da Capella” (Gradiva) obteve a Menção Honrosa do Prémio João Gaspar Simões, em 2011; “O Silêncio Solar das Manhãs” (Gradiva) foi Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, em 2013; “Logo À Tarde Vai Estar Frio” (Gradiva) foi Menção Especial do Júri, no Prémio João José Cochofel / Casa da Escrita de Coimbra, em 2013, e acabaria por vencer o Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho, em 2015; “Na Luz das Janelas Pestanejam as Sombras” (ed. LASA) foi Prémio de Poesia do Bocage, em 2015; o seu último romance, “A Luz Vem das Pedras” (Gradiva), publicado em 2017, venceu em 2015 o Prémio Alves Redol.

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