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domingo, 26 de novembro de 2017

TEATRO: "A Salvação de Lutero"



TEATRO: “A Salvação de Lutero”,
de Teresa Leite
Encenação | Manuel Ramos Costa
Interpretação | Andreia Lopes, António Ferreira, Dorinda Resende, Inês Oliveira, João Barge, José Ferreira, Juliana Almeida, Laura Poças, Luis Ribeiro, Manuel Ricardo, Margarida Martins, Teresa Leite e Tiago Amaral
Produção | Contacto – Companhia de Teatro Água Corrente de Ovar
Casa da Contacto | 25 Nov 2017 | sab | 21:45


Colocando um ponto final na 24ª edição do Festovar – Festival de Teatro de Ovar, a Companhia de Teatro Água Corrente de Ovar estreou a sua 66ª produção, “A Salvação de Lutero”, um texto de Teresa Leite com encenação de Manuel Ramos Costa. Casa cheia na Casa da Contacto em mais um momento alto da Companhia, para uma peça com um cunho muito forte, quer na forma como retrata, dum ponto de vista histórico, a vida e obra do reformista Martinho Lutero, quer no que suscita de tomada de consciência e dúvida interior no tocante a algumas questões candentes da prática católica.

Tirando partido dum cenário simples mas altamente versátil, a peça distribui-se ao longo de vinte e nove quadros que atravessam o percurso de vida de Martinho Lutero, desde a recusa em aceitar o mercado de indulgências em nome do Papa Leão X, até ao momento da sua morte, na sequência duma visão onde a fé é posta à prova de forma particularmente dura. A peça é atravessada por momentos de grande intensidade dramática, como a protecção dada pelo Príncipe Frederico da Saxónia e que permitiu a Lutero a tradução da Bíblia para Alemão, a revolta dos camponeses que se saldou em mais de 100.000 mortos no curto espaço de três anos e ainda o casamento com Catarina De Bora, de quem teve seis filhos.

Quando se celebram 500 anos da afixação, no portal da capela de Wittemberg, das 95 teses de Lutero acerca do poder e eficácia das indulgências, saúda-se a iniciativa da Contacto em recordar os factos e relançar o debate em torno de questões doutrinárias fracturantes no seio da Igreja ainda nos dias de hoje. Sóbria e rigorosa na forma como desenvolve a trama narrativa, “A Salvação de Lutero” junta, harmoniosamente, a palavra ao canto e à dança, tomando conta do público do primeiro ao último instante. Para tal, é decisiva a forma como os actores, no seu conjunto, assumem os respectivos papéis, transmitindo à peça uma enorme coerência e verdade. Destes, é justo destacar José Ferreira, no papel de Lutero, irrepreensível na entrega à personagem, incisivo na palavra, convicto na fé. Uma peça de grande atualidade e que marca, da melhor forma, os 34 anos duma Companhia cada vez mais empenhada em dar a ver teatro. E teatro do bom!

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