CINEMA: “O Quadrado”
Realização e Argumento | Ruben
Östlund
Interpretação | Claes Bang,
Elisabeth Moss, Dominic West, Terry Notary, Christopher Læssø,
Marina Schiptjenko, Elijandro Edouard, Daniel Hallberg, Martin
Sööder, Sofie Hamilton
Produção | Philippe Bober, Erik
Hemmendorff
Suécia, Alemanha, França,
Dinamarca | 2017 | Drama | 142 minutos
Cinema Dolce Espaço, Ovar
26 Nov 2017 | dom | 18:30
Christian é o ilustre curador de um
Museu de Arte Contemporânea de Estocolmo. Homem respeitado, parece
seguro do papel da arte enquanto instrumento de mudança e mostra-se
um apoiante convicto das causas nobres. A sua próxima exposição,
“O Quadrado”, é uma instalação que pretende evocar o altruísmo
em quem a vê, recordando-nos o nosso papel enquanto seres humanos
responsáveis, por nós como pelos outros. Mas às vezes é difícil
viver à altura dos nossos ideais: A equipa de Relações Públicas
do Museu cria uma campanha inesperada para “O Quadrado” e a
reacção inflamada do público lança Christian, bem como o próprio
museu, numa crise de identidade profunda. Entretanto, a atitude incauta de Christian ao roubo da sua carteira e do seu telemóvel vai
conduzi-lo a situações das quais se envergonhará.
Inteligente, acutilante e
deliciosamente desconfortável,“O Quadrado” é uma metáfora do
viver e do sentir nas sociedades modernas. Ele revela, de
forma impiedosa, uma condição humana assente no preconceito, constrangida pela crescente
desigualdade social, ferida pela perda de valores morais e em relação
à qual as novas tecnologias assumem um papel desestruturante,
reforçando o clima generalizado de desconfiança em relação ao
outro. É por isso que a instalação denominada “O Quadrado”, da
Argentina Lola Arias, alcança uma dimensão superior na hierarquia
moral dos homens, ao afirmar-se um “santuário da confiança e da
boa vontade”. E é por isso que a liberdade de expressão, primado
da criação artística, se vê tão maltratada no interior daquele
mesmo quadrado.
Desenvolvendo-se a partir duma
narrativa que fere, pela forma crua como aponta o dedo a cada um de
nós, o filme não tem no conteúdo, apenas, o seu grande trunfo. A
forma como se expande até à orla do insuportável é absolutamente
brilhante. As cores glaucas num céu que nunca se vê, os
contra-picados que apequenam os sujeitos, a fotografia e os
enquadramentos estudados ao pormenor têm o contraponto perfeito num
apontamento que se busca no lixo no meio da chuva, numa criança que se insurge contra uma falsa acusação ou num jantar de gala
subitamente transformado numa selva ameaçadora. O filme recebeu a
Palma de Ouro do Festival de Cannes 2017 e que bem merece a
distinção. É, a todos os títulos, um fresco notável, que embora
não nos redima face àquilo que somos, sempre nos vai dizendo que
nunca é tarde para fazermos algo pelos outros. E por nós próprios!
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