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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

CINEMA: "A Floresta das Almas Perdidas"




CINEMA: “A Floresta das Almas Perdidas”,
Realização e Argumento | José Pedro Lopes
Interpretação | Daniela Love, Jorge Mota, Mafalda Banquart, Lília Lopes, Tiago Jácome e Lígia Roque
Produção | Ana Almeida
Portugal, Emirados Árabes Unidos, Rússia, Espanha | 2017 | Drama, Terror | 71 minutos
Cinema Dolce Espaço, Ovar
11 Nov 2017 | sab | 21:30


No início da sessão, José Pedro Lopes, o realizador de “A Floresta das Almas Perdidas”, dirige-se à plateia e explica ser este “um filme autoral, um filme de terror, a meio-caminho do drama, com um pouco de comédia”. No final acrescentará que, tendo tido a possibilidade de fazer este filme [entenda-se, “não sabendo se surgirão condições para realizar outro”], quis meter lá tudo aquilo que para ele fazia sentido, aquilo de que gosta em Cinema. Isso é perceptível com o avançar do filme, duma certa atmosfera oriental, sugerida no próprio título e na sua relação com Aokigahara, a floresta dos suicídios, aos registos que podem ser interpretados como uma homenagem aos seus referentes – nomeadamente a cinematografia sul-coreana. A verdade é que, após um começo deveras prometedor, o filme acaba por conviver mal com esta “misturada” e, apesar do esforço evidente em preservar a necessária coerência, não consegue escapar a uma certa dispersão e acaba por ir perdendo força, como uma onda que vem morrer na praia.

E então, não se arranja nada de bom para dizer acerca do filme? Certamente que sim. Aliás, quero dizer desde já que não fiquei indiferente ao filme, que gostei do filme. As interpretações são, no seu conjunto, excelentes, destacando-se Daniela Love. É notável a forma como a atriz veste a pele de Carolina, a personagem principal, frágil no aspeto mas tão forte nas suas convicções. A sua enorme facilidade em transitar entre vários registos diferentes, sem perder nunca o sentido da personagem, é revelador duma grande maturidade. A tipificação do “serial killer”e a inscrição da sua matriz sócio-comportamental neste particular grupo é outro dos pontos fortes do filme, pela coerência que confere à personagem. Sobretudo, embora tratando-se de um filme potencialmente perturbador do ponto de vista psicológico pela temática que aborda, não é um filme “pesado”, antes vê-se com um sorriso algo irónico, já que se assume a acção num território da fantasia, onde nada deve ser levado a sério. Esta é, na minha maneira de entender o género de Terror, o grande mérito do filme e ao qual me sinto rendido. Uma palavra ainda para a imagem, com assinatura de Francisco Lobo, e que é duma enorme beleza; a forma como são definidos os enquadramentos e se “abusa” do plano fixo diz-nos estarmos perante um Diretor de Fotografia excecionalmente talentoso. Suspeito que a opção pelo Preto e Branco não seja, globalmente, um trunfo a favor do filme, mas é inegável que Francisco Lobo tira daí um enorme partido e acaba por “minimizar os danos”.

Regressando ao início, regressamos a José Pedro Lopes e também a Daniela Love, que o acompanhou nesta noite muito especial no Cinema Dolce Espaço, em Ovar. A sua presença entre nós é mais uma prova do respeito que a Filmógrafo, a distribuidora que explora este pequenino mas simpático espaço da nossa cidade, nos dedica. Um respeito e um carinho que não parece ter a necessária correspondência da parte do público, tão baixa é a afluência àquela Sala. Resta dar os parabéns à Filmógrafo por esta iniciativa em particular e deixar uma palavra de agradecimento pela enorme resiliência que faz questão de demonstrar. Se um dia perdermos esta Sala, não é a meia dúzia de gatos que a frequentam habitualmente que saem a perder. Esses amam o cinema e saberão ir “miar” para Estarreja, Espinho, Gaia ou Porto. É, uma vez mais, a cidade e as suas gentes quem sai a perder!

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