CINEMA: “A Floresta das Almas
Perdidas”,
Realização e Argumento | José
Pedro Lopes
Interpretação | Daniela Love,
Jorge Mota, Mafalda Banquart, Lília Lopes, Tiago Jácome e Lígia
Roque
Produção | Ana Almeida
Portugal, Emirados Árabes
Unidos, Rússia, Espanha | 2017 | Drama, Terror | 71 minutos
Cinema Dolce Espaço, Ovar
11 Nov 2017 | sab | 21:30
No início da sessão, José Pedro
Lopes, o realizador de “A Floresta das Almas Perdidas”, dirige-se à plateia e explica
ser este “um filme autoral, um filme de terror, a meio-caminho do
drama, com um pouco de comédia”. No final acrescentará que, tendo
tido a possibilidade de fazer este filme [entenda-se, “não sabendo
se surgirão condições para realizar outro”], quis meter lá tudo
aquilo que para ele fazia sentido, aquilo de que gosta em Cinema. Isso é perceptível com o avançar do filme, duma certa atmosfera
oriental, sugerida no próprio título e na sua relação com
Aokigahara, a floresta dos suicídios, aos registos que podem ser
interpretados como uma homenagem aos seus referentes – nomeadamente a cinematografia sul-coreana. A verdade é que,
após um começo deveras prometedor, o filme acaba por conviver mal
com esta “misturada” e, apesar do esforço evidente em preservar
a necessária coerência, não consegue escapar a uma certa dispersão
e acaba por ir perdendo força, como uma onda que vem morrer na
praia.
E então, não se arranja nada de
bom para dizer acerca do filme? Certamente que sim. Aliás, quero
dizer desde já que não fiquei indiferente ao filme, que gostei do
filme. As interpretações são, no seu conjunto, excelentes,
destacando-se Daniela Love. É notável a forma como a atriz veste a
pele de Carolina, a personagem principal, frágil no aspeto mas tão forte nas suas convicções. A sua enorme facilidade em
transitar entre vários registos diferentes, sem perder nunca o
sentido da personagem, é revelador duma grande maturidade. A
tipificação do “serial killer”e a inscrição da sua matriz
sócio-comportamental neste particular grupo é outro dos pontos
fortes do filme, pela coerência que confere à personagem.
Sobretudo, embora tratando-se de um filme potencialmente perturbador
do ponto de vista psicológico pela temática que aborda, não é um
filme “pesado”, antes vê-se com um sorriso algo irónico, já que se assume a acção num território da fantasia, onde nada deve ser levado a sério. Esta
é, na minha maneira de entender o género de Terror, o grande mérito do filme e ao qual me sinto rendido. Uma palavra ainda para a imagem,
com assinatura de Francisco Lobo, e que é duma enorme beleza; a
forma como são definidos os enquadramentos e se “abusa” do plano
fixo diz-nos estarmos perante um Diretor de Fotografia
excecionalmente talentoso. Suspeito que a opção pelo Preto e Branco
não seja, globalmente, um trunfo a favor do filme, mas é inegável
que Francisco Lobo tira daí um enorme partido e acaba por “minimizar os danos”.
Regressando ao início, regressamos
a José Pedro Lopes e também a Daniela Love, que o acompanhou nesta
noite muito especial no Cinema Dolce Espaço, em Ovar. A sua presença
entre nós é mais uma prova do respeito que a Filmógrafo, a
distribuidora que explora este pequenino mas simpático espaço da
nossa cidade, nos dedica. Um respeito e um carinho que não parece
ter a necessária correspondência da parte do público, tão baixa é
a afluência àquela Sala. Resta dar os parabéns à Filmógrafo por
esta iniciativa em particular e deixar uma palavra de agradecimento
pela enorme resiliência que faz questão de demonstrar. Se um dia
perdermos esta Sala, não é a meia dúzia de gatos que a frequentam
habitualmente que saem a perder. Esses amam o cinema e saberão ir
“miar” para Estarreja, Espinho, Gaia ou Porto. É, uma vez mais,
a cidade e as suas gentes quem sai a perder!
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