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terça-feira, 11 de março de 2025

CINEMA: "No Other Land"



CINEMA: “No Other Land”
Realização | Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal, Rachel Szor
Argumento | Basel Adra, Rachel Szor, Hamdan Ballal, Yuval Abraham
Fotografia | Rachel Szor
Montagem | Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal, Rachel Szor
Interpretação | Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal
Produção | Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal, Fabien Greenberg, Bård Kjøge Rønning, Rachel Szor
Palestina, Noruega | 2024 | Documentário | 92 Minutos | Maiores de 12 Anos
Cinema Trindade - Sala 1
10 Mar 2025 | seg | 16:15


À medida que vamos sendo testemunhas dos horrores que vitimam as populações dos territórios palestinianos sob ocupação israelita e as tragédias gritantes que a ofensiva sionista provoca, percebemos um quotidiano de dor e sofrimento, com deslocações constantes, todo o tipo de perseguições, privações e genocídio. A questão, porém, não se limita a Gaza, que vem sofrendo com uma guerra criminosa há mais de um ano, mas também a toda a presença palestiniana nas terras que, de um ponto de vista histórico, são as suas. Daí a importância de um filme como “No Other Land”, de Basel Adra, Yuval Abraham, Hamdan Ballal e Rachel Szor, recentemente galardoado com o Óscar da Academia de Hollywood para Melhor Documentário. Produzido por um grupo israelo-palestiniano, o filme documenta a destruição de Masafer Yatta, localidade do sul da Cisjordânia que inclui várias aldeias e comunidades herdeiras das antigas tribos beduínas. As habitações originais eram cavernas escavadas na rocha e sobreviveram até aos nossos dias, mas nos últimos tempos as condições de vida dos habitantes melhorou substancialmente com a mudança para habitações um pouco melhores, a chegada da electricidade e da água potável e mesmo a construção de uma escola e de um parque infantil.

Basel Adra, jovem advogado que há muito tempo documenta as violações do exército israelita e as atrocidades contra a população palestiniana, cresceu e vive precisamente numa dessas comunidades. Nos últimos anos, pode contar com a companhia do jornalista israelita Yuval Abraham na recolha e publicação de notícias, daqui resultando uma sólida amizade entre os dois. Mas enquanto Yuval tem a liberdade de conduzir o seu carro, cruzar a fronteira e regressar a Israel sempre que quiser, Basel está impedido de o fazer depois de lhe terem sido confiscados os documentos de identificação. Na mesma situação dramática vivem os habitantes da região e de outras terras vizinhas, pelo facto de Israel ter declarado a área como zona especial de treino militar. A qualquer hora do dia ou da noite, as terras são confiscadas e as demolições começam de imediato, sem que um tecto seja providenciado a famílias inteiras forçadas a deixar as suas casas. As canalizações são arrancadas ou os tubos cortados, os geradores eléctricos destruídos e a escola terraplanada. Vendo os colonatos a crescerem à sua volta e sem sítio onde ficar, o povo de Masafer Yatta é forçado a mudar-se para a sobrelotada Faixa de Gaza. Não há outra terra para onde ir. Nenhuma outra terra, na verdade.

Heroína absoluta do filme, a câmara regista a fuga da população civil, o afã destruidor das escavadoras, os soldados que empurram os jornalistas e os impedem de fazer o seu trabalho, até que uma mão israelita bloqueia o fluxo de imagens e os fotógrafos são forçados a fugir, ficando apenas o registo dos gritos e da sua respiração ofegante. Numa prova de activismo pacífico, Basel Adra e Yuval Abraham mostram que, por muito improvável que seja, é possível uma saída para o conflito: Longe das violações, longe das vítimas, longe dos sentimentos de vingança, o caminho para uma possível coexistência existe, e a amizade e cooperação entre advogado e jornalista são disso a mais forte das evidências. As últimas filmagens do quarteto de realizadores e argumentistas datam do Verão de 2023, antes do ataque do Hamas a Israel, a 07 de Outubro desse ano. A opressão e a violência sofridas pelas famílias de Masafer Yatta não se relacionam de forma directa com estes acontecimentos, mas são o resultado da anos e anos de abuso do poder por parte de Israel, de forma completamente arbitrária e injusta sobre os territórios que decidiu ocupar. Este pequeno e corajoso documentário torna isso bem claro.

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