CINEMA: “Anora”
Realização | Sean Baker
Argumento | Sean Baker
Fotografia | Drew Daniels
Montagem | Sean Baker
Interpretação | Mikey Madison, Paul Weissman, Lindsey Normington, Emily Weider, Luna Sofia Miranda, Vincent Radwinsky, Brittney Rodriguez, Sophia Carnabuci, Mark Eydelshteyn, Anton Bitter, Elia Rubin, Ross Brodar, Zoë Vnak, Vlad Mamai, Maria Tichinskaya
Produção | Sean Baker, Alex Coco, Samantha Quan
Estados Unidos | 2024 | Drama, Romance, Comédia | 139 Minutos | Maiores 16 anos
Vida Ovar
10 Nov 2024 | dom | 13:20
Entre a vida nocturna nos clubes de striptease de Manhattan e o dia passado a dormir na tentativa de recuperar as energias, a vida de Ani é feita de rotinas. Dada a sua capacidade de falar russo devido às origens uzbeques, uma noite cruza-se com Vanya, um homem riquíssimo que lhe oferece uma elevada quantia para ser sua namorada por uma semana. Guiados pelo brio de Ani e pelo dinheiro de Vanya, os dois vivem tempos de verdadeira loucura, dedicados apenas à satisfação dos seus desejos. Até que decidem casar-se em Las Vegas, ele em busca da emancipação dos pais e da cidadania americana e ela procurando libertar-se da vida que leva, trocando-a pela tão desejada tranquilidade e conforto. Pareceria exactamente o conto de fadas de “Pretty Woman”, só que os tempos são outros: Estamos em 2024, este é um filme de Sean Baker, e eis que é chegada a hora de Ani e Vanya pagarem a conta de uma semana descontrolada e de um casamento irresponsável.
Após o excelente “Red Rocket”, Sean Baker está de regresso ao mundo da prostituição, mostrando os seus contornos através da vida e da natureza de Anora, uma jovem prática e directa, capaz de lutar pelo que considera seu. O filme de Sean Baker revisita o clássico romântico com Julia Roberts e Richard Gere, substituindo os dois mitos fascinantes e intemporais de Hollywood por dois jovens com um charme contemporâneo e alegre que certamente não foram feitos um para o outro, mas que são igualmente inesquecíveis. Anora nunca é vítima das suas escolhas, zomba dos clientes e das suas perversões, do contraste entre a força e virilidade que aparentam e a constante vitimização das próprias falhas, o que a coloca numa posição de poder absoluto. Enquanto isso, o realizador prossegue o conto de fadas sobre uma humanidade marginalizada em busca de um lugar no Paraíso: uma viagem à Disneylândia, um retorno glorioso ao mundo do cinema para adultos, uma vida rica e confortável que exclui de uma vez por todas a precariedade e o risco de ter de se vender por dinheiro.
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, “Anora” mostra um Sean Baker exímio na forma como brinca com as suas personagens e com o género, criando sequências de enorme tensão e oferecendo ao público momentos inesquecíveis, sobretudo aqueles que são dominados pela energia de Anora, capaz de criar, em simultâneo, um ambiente com tanto de histérico e violento quanto de terno e acolhedor. Vanya representa o que Anora nunca conheceu e que, por isso, nunca irá compreender totalmente, até àquela última cena que encerra um tempo louco para a qual nós, espectadores, somos arrastados. Se de um ponto de vista formal e narrativo, “Anora” nada mais é do que uma comédia convincente, com este filme o realizador americano dá um passo em frente rumo à imortalidade da sua filmografia, conseguindo delinear personagens inesquecíveis com uma precisão emocional desarmante e toda a beleza das lentas e preciosas descobertas. Anora é essa descoberta preciosa e delicada, que arrebata e prende, capaz de, no final, levar o espectador a apaixonar-se.
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