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quarta-feira, 3 de julho de 2024

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Da Obra ao Negro às Cores da Liberdade”



EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Da Obra ao Negro às Cores da Liberdade”,
de Manuel Filipe
Paredes de Abril
Museu Nacional Machado de Castro
18 Abr > 15 Set 2024


Assinalando os 50 anos do 25 de Abril de 1974, “Da Obra ao Negro às Cores da Liberdade” mostra algumas das mais significativas obras de Manuel Filipe [1908 – 2002], artista nascido em Condeixa-a-Nova e um dos precursores da corrente neorrealista em Portugal. No final dos anos trinta e início da década de quarenta do século XX, uma parte dos escritores e dos artistas plásticos da terceira geração modernista portuguesa procurou afirmar um novo movimento artístico designado por Neorrealismo. Estão neste caso os escritores Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, Fernando Namora ou Manuel da Fonseca, entre outros, e também os pintores Júlio Pomar, Victor Palla, Júlio Resende, Lima de Freitas, Vespeira ou o próprio Manuel Filipe. Com acentuada vertente política militante anti-fascista, os seus proponentes defendiam a arte como motor de transformação social e política do país, ao mesmo tempo chamando a atenção para a falta de liberdade do regime salazarista, para as guerras destrutivas da humanidade e para as precárias condições de vida da classe operária.

É neste horizonte artístico-cultural que surge a denominada “fase negra” da obra de Manuel Filipe, produzida entre os anos de 1942-45, e coincidente com os efeitos mais dramáticos da Segunda Grande Guerra. Estando, neste período, colocado como professor de desenho no liceu de Leiria, o artista produz um conjunto de 46 desenhos – alguns em formato de díptico ou tríptico –, recorrendo à densa e contrastante simplicidade das tonalidades cinza e negra da mina de carvão sobre papel. Neles desfila a visão de uma arte incómoda, mas nunca mórbida, cheia de vitalidade na anemia das suas deformadas figuras andrajosas e esquálidas, denunciando a aspereza da sua precária e hostil condição existencial. Num país de acentuado grau de analfabetismo e dominado por fortíssima e cada vez mais sofisticada propaganda, as artes rompiam também a estabilidade política e insinuavam-se na construção de alternativas.

Em 1947, ano em que Manuel Filipe vê apreendido um dos seus trabalhos na II Exposição Geral de Artes Plásticas da Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa, é “aconselhado” pela polícia política a não voltar a expor obras do mesmo teor, circunstância que resulta na quase ausência de obra nova, dedicando-se então ao ensino do desenho. Ressurgirá revigorado na década de sessenta, dando início a uma fase em que se afasta progressivamente da longa noite negra da opressão a preto e branco, irrompendo nos seus quadros todas as cores do dia. Torna-se mais experimental e livre, optando por uma paleta de cores mais intensas e por formas menos definidas, recorrendo, algumas vezes, à colagem de desperdícios produzidos pela indústria, como um modo de evidenciar a depauperação da gestão de recursos e da exploração desenfreada do planeta. A sua obra continua a denúncia de uma certa irracionalidade da sociedade e a esperança de alcançar maior equilíbrio, agora da existência humana com o meio ambiente.

[Texto baseado no Catálogo da Exposição]

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