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domingo, 28 de abril de 2024

LUGARES: Casa da Inquisição | Castelo de Vide



LUGARES: Casa da Inquisição
Rua Nova, 27 - Castelo de Vide
Horários | De terça-feira a domingo, das 9:00 às 13:00 e das 14:00 às 17:00 (das 15:00 às 18:00 no horário de Verão, a partir de 31 de Maio) 
Ingressos | Entrada gratuita


“Mais do que um museu, pretende ser uma experiência”. É com estas palavras que somos recebidos na Casa da Inquisição, equipamento que ocupa os três pisos da Casa do Morgado, um edifício setecentista de grande valor histórico-arquitetónico, situado no casco histórico de Castelo de Vide. O Regimento do Santo Ofício é o ponto de partida de uma viagem ao particular universo histórico-sociológico da Inquisição Portuguesa, estabelecida em 23 de maio de 1536 e extinta em 31 de março de 1821. O primeiro auto-de-fé realizou-se a 20 de setembro de 1540, em Lisboa e o último em 1761, tendo tido como vítima o Jesuíta Gabriel Malagrida, já no tempo do Marquês de Pombal. Alguns registos apontam para 1175 pessoas queimadas vivas em autos-de-fé e 633 em efígie (em representação). Foram presas, torturadas e condenadas a vários tipos de penitências cerca de trinta mil pessoas. Cada um destes episódios é testemunha dos mais hediondos crimes praticados por uma instituição que abrangeu todo o território português, sendo que, quer em intensidade e quer em extensão, nenhuma outra se lhe igualou.

Inaugurada em Março de 2023, a Casa da Inquisição tem projecto museológico com assinatura de Jorge Martins, historiador especialista na área da Inquisição e estudioso de todos os processos arquivados na Torre do Tombo relativos a judeus de Castelo de Vide alvo das acções do Santo Ofício. Numa vila com uma proeminente comunidade judaica, Castelo de Vide recebeu várias vezes a visita do “Visitador”, ampliando assim a presença inquisitória no território português. Como forma de relembrar todo o processo, a Casa da Inquisição retrata a vida de Guiomar Mendes, desde o momento em que entrou no cárcere até ao minuto final, ou seja, o auto-de-fé. A história desta mulher, cristã-nova castelo-vidense presa pela Inquisição de Lisboa em 1662, serve de guião expositivo no acompanhamento das diferentes fases de um processo inquisitorial. Através de uma aplicação, a visita pode ser enriquecida pelo recurso à realidade aumentada, acrescentando à dimensão lúdica as componentes pedagógica e elucidativa.

“Porque vieram a este local pleno de desgraça?”. A pergunta é feita por Guiomar Mendes, a mulher cristã nova que irá morrer na fogueira e que, no seu longo calvário, nos levará ao encontro do Carcereiro, do Padre, do Inquisidor Mor, de um “Familiar do Santo Ofício”, Francisco Mourato Roma, ou do médico, botânico e antropólogo Garcia de Orta. Ao longo do percurso expositivo vamos percebendo as deploráveis condições dos cárceres da Inquisição, os locais “com instrumentos necessários para neles se dar tormento aos presos”, a Sala do Despacho onde os interrogatórios tinham lugar, a Sala do Secreto, espaço de arquivo e mais reservado do Santo Ofício, ou os cadafalsos onde tinham lugar os autos-de-fé. Saberemos também o significado de “potro” e de “polé”, de “sambenito”, e ainda a dimensão do cripto-judaísmo com os seus lugares secretos associados às práticas religiosas. Aos gritos, orações, correntes a serem arrastadas e os nomes de 210 castelo-videnses que sofreram às mãos da Inquisição, junta-se uma figuração hiper-realista em cera e silicone em tamanho real. Uma visita valiosíssima através de três séculos das mais aviltantes práticas em nome da Fé e da Igreja Católica.

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