1 de Junho, Dia Mundial da Criança. A efeméride assinalou-se pela primeira vez em 1950 na sequência do Congresso da Federação Democrática Internacional das Mulheres, realizado no ano anterior, em Paris. Pretendia-se com a iniciativa que fosse reconhecido, a todas as crianças do mundo, o direito ao afeto, amor e compreensão, alimentação adequada, cuidados médicos, educação gratuita, proteção contra todas as formas de exploração e a crescer num clima de paz e fraternidade, independentemente da raça, cor, religião, origem social e país de origem. Ainda que sem grande impacto no nosso país ao tempo da ditadura, a ideia de comemorar o Dia Mundial da Criança terá bailado no espírito de Armando Ginestal Machado, engenheiro e ferroviário, que decidiu avançar com uma exposição fotográfica. Estávamos em 1967. O local escolhido para expor as imagens foi a Estação de Campanhã. O fotógrafo era um estreante nestas andanças e chamava-se Bruno Neves.
Saltando 55 anos no tempo e fazendo coincidir a data do 1 de Junho com o dia da abertura da sua mais recente mostra, Bruno Neves oferece-nos "Crianças da Minha Sé”, conjunto de quatro dezenas de imagens a preto e branco e que podem ser vistas, até ao final do próximo mês, no átrio da Estação de São Bento e no Instituto Multimédia - Escola Profissional, na Rua das Taipas. Organizada pelo Museu da Imprensa, com o apoio da Associação 25 de Abril e da Comissão das Comemorações 50 anos do 25 de Abril, a exposição retrata uma cidade dominada pela pobreza, povoada de crianças que extravasam a freguesia de Vimara Peres e riem, meio nus, na Capela das Almas. Não usam bola de trapos, mas de borracha e alguns jogam ao pião com a roupa melhorada da recente subida dos ordenados. Empoleiram-se nas portas, espreitam das varandas, partilham gelados ou viajam à guna nas traseiras de um autocarro de dois andares.
No texto que acompanha a exposição, escrito por Maria do Carmo Serén, pode ler-se: “Numa imagem rara, o fotógrafo Bruno Neves dá-nos um panorama da Sé, ainda com uma parede das cerca sueca desabada, um estacionamento selvagem entre detritos e desleixo. Nas paredes das casas de Pena Ventosa e Rua Escura, desfazem-se cartazes políticos envelhecidos e, numa fachada lateral de uma casa que encosta à catedral, claramente decadente, lê-se ‘Rua com Sá Carneiro’. Barracas de venda inaceitáveis, meninos que jogam às cartas, conversam e riem ou desfiam segredos, um que fuma um cigarro, outros, mais novos, em carros feitos dos caixotes de fruta. Outras crianças entregues a si mesmas, mas resguardadas por trás de esplêndidas portas de outros séculos e outras habitações, apenas espreitam a cidade proibidas de portadas que apenas escondem atamancados refúgios sobre alugados: Há uma evocação de Doisneau ou Cartier-Bresson em algumas delas e uma desolada esperança nos amanhãs que cantam.”
Sem comentários:
Enviar um comentário