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domingo, 2 de maio de 2021

CINEMA: "Mais uma Rodada"



CINEMA: “Mais uma Rodada” / “Druk”
Realização | Thomas Vinterberg
Argumento | Thomas Vinterberg, Tobias Lindholm
Fotografia | Sturla Brandth Grøvlen
Montagem | Janus Biloleskov Jansen, Anne Østerud
Interpretação | Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Magnus Millang, Lars Ranthe, Maria Bonnevie, Helene Reingaard Neumann, Susse Wold, Magnus Sjørup, Silas Cornelius Van, Albert Rudbeck Lindhardt, Martin Greis-Rosenthal, Frederik Winther Rasmussen
Produção | Kasper Dissing, Sisse Graum Jørgensen
Dinamarca, Holanda, Suécia | 2020 | Comédia, Drama | 117 Minutos | M/14
Cinema Vida 30 Abr 2021 | sex | 18:15


É quando a vida entra na rotina e a inércia toma conta de nós que nos damos conta do quanto perdemos desse fogo que pautava a nossa juventude e nos levava por caminhos de aventura e ilusão. Mas como contrariar a monotonia dos dias, se mergulhados nas obrigações do trabalho e da família, a alegria de viver comprometida, o futuro feito de angústias e incertezas? É aqui que surge o filósofo e psiquiatra norueguês Finn Skårderud, cuja teoria sustenta que manter uma certa taxa de alcoolémia no sangue é, mais do que um benefício, um atributo fisiológico do ser humano. Bebamos, pois, para nos libertarmos do mal que nos assalta e nos lembrarmos que há muita vida pela frente que merece ser (bem) vivida. Este é o ponto de partida de “Mais uma Rodada”, filme de 2020 do realizador dinamarquês Thomas Vinterberg ao qual a Academia de Hollywood decidiu outorgar, há poucos dias atrás, o Óscar para o Melhor Filme Internacional.

Martin, Tommy, Peter e Nikolaj são quatro professores do ensino secundário cujas vidas atravessam a chamada “crise dos quarenta”, numa Dinamarca a braços com um grave problema de alcoolismo na sua população, nomeadamente naquela mais jovem. Fazendo da teoria de Skårderud uma espécie de tese, os quatro irão levar por diante um verdadeiro “ensaio clínico”, impondo-se regras precisas que permitam validar as suas acções e promovendo o registo ordenado e minucioso das mais variadas reacções. E assim, sob a capa de um “projecto científico” que apenas aos quatro diz respeito, percebem o quanto as suas vidas se vão libertando do jugo miserável em que haviam caído, ao mesmo tempo que tomam consciência dos riscos de adentrar o pantanoso mundo da bebida e do alcoolismo.

“Mais uma Rodada” desfruta-se como se de um bom vinho se tratasse, mas só até certo ponto. A sua imensa alegria contagia o espectador e, de forma grata, aceitamos mais um copo. E mais outro. No ponto de viragem, porém, as consciências começam a afundar-se. O filme também. Na tela, a experiência científica inicial parece chegar ao fim, mas cada uma das quatro personagens mostra-se apostada em pôr à prova os seus próprios limites. Um certo mal-estar começa a invadir o espectador. Pressentimos que algo vai correr mal. A comédia não tardará a dar lugar à tragédia. Longe do brilhantismo de “A Caça” (2012) ou mesmo de “A Comuna” (2016), Thomas Vinterberg volta a abordar os dramas das relações humanas e a forma como são condicionadas por uma certa “nostalgia do passado”. Fá-lo, todavia, sem a sensibilidade que se exigiria, recheando a trama dos mais banais clichés e oferecendo um final absolutamente denunciado, em ambiente de euforia sob uma chuva de champanhe em câmara lenta. Em Hollywood não se faria melhor.

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