CINEMA: “Da Eternidade” / “Om Det Oändliga”
Realização | Roy Andersson
Argumento | Roy Andersson
Fotografia | Gergely Pálos
Montagem | Roy Andersson
Interpretação | Bengt Bergius, Anja Broms, Marie Burman, Amanda Davies, Tatiana Delaunay, Karin Engman, Jan-Eje Ferling, Thore Flygel, Lotta Forsberg, Anton Forsdik, Fanny Forsdik, Anders Hellström
Produção | Johan Carlsson, Pernilla Sandström
Suécia, Alemanha, Noruega, França | 2019 | Drama | 78 Minutos | Maiores de 12
Cinema Dolce Espaço
17 Out 2020 | sab | 16:00
Um padre sente vacilar a sua fé e é acometido de pesadelos terríveis. Um homem cumprimenta outro e não recebe resposta, recordando-se então do mal que lhe fizera há muitos anos atrás. Um rapaz passa à porta de um salão de cabeleireiro, vê uma jovem a regar uma planta e percebe que nunca tinha descoberto o amor antes. Uma mulher olha fixamente através duma janela, descobrindo-se incapaz de sentir vergonha. Os pais de um jovem morto na guerra compõe-lhe a campa com flores, ao mesmo tempo que falam com ele. Um homem julga salvar a honra da família mas arrepende-se de imediato. Um militar obstina-se em tomar conta do mundo mas vê as suas intenções falharem. No interior de um café, um homem invectiva os clientes e pergunta-lhes se não é maravilhoso. “O quê”, querem saber. Ao que ele responde, “tudo”.
Optando pelo plano fixo e construindo “Da Eternidade” com base em sequências sem qualquer relação aparente entre si, Roy Andersson oferece-nos um filme que é, acima de tudo, um apanhado das nossas dúvidas e inquietações enquanto viajantes de um tempo só nosso neste mistério de estar vivo. Trata-se de um mosaico de histórias, personagens e cenas que representam as distintas etapas, emoções ou momentos de vida de todos e de cada um. Narrado através de pequenas frases descritivas, o filme propõe ao espectador uma espécie de jogo onde o objectivo pode ser o de tentar adivinhar, com a maior exactidão possível, aquilo que a voz acabou de descrever. Facilmente veremos que, apesar de nos acercarmos do resultado final, este se mostra sempre mais simples e directo no filme. O tempo de cada sequência, como se de uma fotografia se tratasse, aproxima-nos do real, Roy Andersson a dizer-nos que nada é gratuito ou acontece por acaso.
Mesclando a dureza ou a tensão de certas cenas com outras mais ternas, quase oníricas, o realizador lembra-nos, à boa maneira shakespeariana, que o mundo é um palco, as comédias e tragédias da vida dançando e exibindo os seus peculiares matizes. Há também uma espécie de circularidade – a história inicial a colar-se à última – recordando-nos que isto anda tudo ligado. É o que nos diz o jovem estudante que, invocando a primeira Lei da Termodinâmica, lembra que a energia é infinita, nunca se destruindo, apenas se transformando. Da mesma forma que as histórias espelham o constante fluxo da imaginação e da criação. No final, dar-nos-emos conta da nossa existência neste mosaico tão estranhamente real, tal como as restantes personagens, igualmente pálidos, ausentes e anódinos, contemplando a lenta e instável caminhada no bordo do precipício.
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