EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Transparências da Ria e do Mar”,
de Cândido Teles
Museu Marítimo de Ílhavo
“(...) A ria é mágica e possui uma luz própria que a veste.
(...) Um grande lanço de água vem até mim em pequenas ondulações azuis
e por camadas sucessivas, como estas manchas que os pintores acumulam nos quadros
com a ajuda das espátulas. Junto ao barco a água reflecte um azul vivo e fresco
como nunca vi. Longe azul desmaiado, perto azul como tinta. Vejo diante de mim
a amplidão azul, num assombro. (...)”
No primeiro dia do mês de Janeiro de 1921 nascia em Ílhavo Cândido Teles, filho e neto de artistas e o mais ilustre intérprete da Ria de Aveiro e da sua luz. Tendo habitado, desde cedo, entre Ílhavo e a Costa Nova, o apelo da Ria esteve sempre presente ao longo do seu percurso de artista. Apelidado por alguns como “Turner da Ria de Aveiro”, soube interpretá-la na sua verdadeira essência em todos os períodos lumínicos e até de noite a captou em todo o seu esplendor.
O conjunto de pinturas a óleo, doado ao Museu Marítimo de Ílhavo em 2019, espelham a primeira fase pictórica do artista ilhavense: trabalhos pequenos que se julgam ter servido de estudo para outros e nos quais se reflecte, sobretudo, a herança estética de Fausto Sampaio, visível na abordagem feita à luz natural. Assentes na corrente pós-naturalista, perpetuada até ao início do Estado Novo, estas pinturas serão a confirmação de um gosto ar-livrista fiel à estética e tradições naturalistas que fixaram na pintura a caracterização de um Portugal pitoresco e ruralista que contrariava e ignorava as rupturas que o modernismo português produziria no campo das artes e das letras.
Marinhista devoto, Cândido Teles prescindiu da representação das praias, temática muito em voga na transição do século XIX para o século XX em pintores nacionais e internacionais, optando pela abordagem das fainas piscatórias. O mote estava encontrado e Cândido Teles descreveria na tela a beleza dos recantos da Ria de Aveiro: Moliceiros, marinhas, a praia da Costa Nova e os barcos ligados à Arte Xávega surgem esplendorosos nas suas obras onde os retrata com suavidade, fazendo sobressair da paleta cromática os tons de azul, em contraste com tonalidades mais quentes, quase aguareladas, como se de transparências se tratassem.
O percurso do artista é indissociável da sua vida e, apesar da separação e da distância que as diversas comissões na carreira militar obrigaram, a sua terra natal e a sua ria estariam sempre consigo e, para sempre, as imortalizaria na sua obra. Ao comemorar o seu 83º Aniversário, o Museu Marítimo de Ílhavo presta uma sincera e sentida homenagem ao pintor ilhavense, dando a ver uma parte significativa do seu vasto espólio, com obras que vão de meados dos anos 1930 até ao final da sua vida, em 31 de Outubro de 1999. De visita obrigatória!
de Cândido Teles
Museu Marítimo de Ílhavo
“(...) A ria é mágica e possui uma luz própria que a veste.
(...) Um grande lanço de água vem até mim em pequenas ondulações azuis
e por camadas sucessivas, como estas manchas que os pintores acumulam nos quadros
com a ajuda das espátulas. Junto ao barco a água reflecte um azul vivo e fresco
como nunca vi. Longe azul desmaiado, perto azul como tinta. Vejo diante de mim
a amplidão azul, num assombro. (...)”
BRANDÃO, Raul, Os Pescadores
No primeiro dia do mês de Janeiro de 1921 nascia em Ílhavo Cândido Teles, filho e neto de artistas e o mais ilustre intérprete da Ria de Aveiro e da sua luz. Tendo habitado, desde cedo, entre Ílhavo e a Costa Nova, o apelo da Ria esteve sempre presente ao longo do seu percurso de artista. Apelidado por alguns como “Turner da Ria de Aveiro”, soube interpretá-la na sua verdadeira essência em todos os períodos lumínicos e até de noite a captou em todo o seu esplendor.
O conjunto de pinturas a óleo, doado ao Museu Marítimo de Ílhavo em 2019, espelham a primeira fase pictórica do artista ilhavense: trabalhos pequenos que se julgam ter servido de estudo para outros e nos quais se reflecte, sobretudo, a herança estética de Fausto Sampaio, visível na abordagem feita à luz natural. Assentes na corrente pós-naturalista, perpetuada até ao início do Estado Novo, estas pinturas serão a confirmação de um gosto ar-livrista fiel à estética e tradições naturalistas que fixaram na pintura a caracterização de um Portugal pitoresco e ruralista que contrariava e ignorava as rupturas que o modernismo português produziria no campo das artes e das letras.
Marinhista devoto, Cândido Teles prescindiu da representação das praias, temática muito em voga na transição do século XIX para o século XX em pintores nacionais e internacionais, optando pela abordagem das fainas piscatórias. O mote estava encontrado e Cândido Teles descreveria na tela a beleza dos recantos da Ria de Aveiro: Moliceiros, marinhas, a praia da Costa Nova e os barcos ligados à Arte Xávega surgem esplendorosos nas suas obras onde os retrata com suavidade, fazendo sobressair da paleta cromática os tons de azul, em contraste com tonalidades mais quentes, quase aguareladas, como se de transparências se tratassem.
O percurso do artista é indissociável da sua vida e, apesar da separação e da distância que as diversas comissões na carreira militar obrigaram, a sua terra natal e a sua ria estariam sempre consigo e, para sempre, as imortalizaria na sua obra. Ao comemorar o seu 83º Aniversário, o Museu Marítimo de Ílhavo presta uma sincera e sentida homenagem ao pintor ilhavense, dando a ver uma parte significativa do seu vasto espólio, com obras que vão de meados dos anos 1930 até ao final da sua vida, em 31 de Outubro de 1999. De visita obrigatória!
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