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domingo, 13 de outubro de 2019

VISITA GUIADA: Rota Bordaliana


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VISITA GUIADA: Rota Bordaliana
Orientada por | Vera Marques
Organização | Go Caldas
06 Out 2019 | Dom | 09:30 – 12:30


Particularmente conhecida pela sua relação com a Rainha Dona Leonor e por uma pujante e imaginativa indústria cerâmica, Caldas da Rainha é merecedora de uma visita atenta e cuidada. Com inúmeros motivos de interesse museológico patentes nos mais diversos locais, a cidade abre-se ao visitante em espaços tão diversos como o Museu do Hospital e das Caldas, o Museu da Cerâmica, o Museu de José Malhoa, o Museu da Fábrica das Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro ou a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, entre outros. Para os que preferem os espaços mais abertos, impõe-se um passeio pela “rua das montras” ao encontro dos inúmeros exemplares Arte Nova, umas horas de “détente” no Parque D. Carlos, verdadeiro “jardim botânico” que abriga exemplares da flora dos cinco continentes ou uma visita à Praça da Fruta, bem no centro da cidade, sorvendo o ambiente genuíno do único mercado diário horto-frutícola ao ar livre do País. E que se programe o tempo de uma pausa, ainda que breve, no Café Central, para degustar as genuínas cavacas das Caldas.

Com tanta oferta para tão pouco tempo, a opção recaiu sobre a Rota Bordaliana, mediante visita previamente reservada junto da Go Caldas – Guia Turístico da Zona de Caldas da Rainha, uma operadora que tem como grande objetivo potenciar a cidade como destino turístico, tirando o melhor partido dos seus recursos e das iniciativas de actores diversos que representam os polos da arte e cultura da cidade. A escolha não poderia ter sido mais feliz, já que as duas dezenas de réplicas de figuras bordalianas, produzidas em escala gigante e espalhadas por toda a cidade, serviram de pretexto para conhecer as Caldas da Rainha de uma forma diferente, ficando a saber mais das suas histórias e memórias graças ao cuidado, ao conhecimento e aos extraordinários dotes de comunicadora de Vera Marques, a nossa simpática e dedicada guia.

Bem animada ao início duma esplendorosa manhã de domingo, a Praça da Fruta foi ponto de partida duma visita que começou com a apreciação de “O Polícia”, uma das peças mais representativas do espólio bordaliano, plena de expressividade e de riqueza de pormenores num vidrado chamativo. É também na Praça que iremos encontrar outras peças de carácter naturalista, tão ao gosto do artista, como “A Tartaruga”, muito vista em pratos decorativos, “O Caracol”, os “Grupos de Cogumelos”, “O Sardão” ou “A Folha de Couve”. Mas é também ali que nos é dado atentar no belíssimo edifício dos antigos Paços do Concelho, nos pormenores Arte Nova da Nova Padaria Taboense, da Farmácia Central ou das Ferragens Joaquim Baptista Lda. ou nos desenhos na calçada portuguesa que pavimenta a Praça, onde uma colossal serpente parece remeter para a Medicina e para os poderes curativos das águas termais, cujo Hospital se encontra a dois passos de distância. É para lá que nos encaminhamos.

Sendo as Termas parte fundamental da matriz da cidade, era incontornável uma contextualização histórica junto ao espaço termal, hoje propriedade do Município. Ali se falou da Rainha D. Leonor e do Rei D. João V, de ossos enferujados e curas milagrosas, de aquedutos e chafarizes e, claro, do florescimento de toda uma actividade turística que não dispensou o espaço aprazível do Parque D. Carlos, a famosa cerâmica e a brejeirice a ela associada, bem como os nomes da Maria dos Cacos ou de Manuel Gomes Mafra, verdadeiros percursores da indústria cerâmica das Caldas da Rainha. De passagem, tempo para apreciar mais algumas peças da Rota Bordaliana, nomeadamente uma lindíssima “Saloia com Cesto” e uma curiosa “Aldeia dos Macacos”.

É tempo de continuar a visita, passando pelo Jardim da Água, obra modernista de mestre Ferreira da Silva, e do monumental Chafariz das 5 Bicas, ao encontro de uma das peças mais impactantes deste peculiar roteiro, a “Ama das Caldas”, mulher de sorriso franco e teta farta, para regalo da criança que segura no colo. Na fachada exterior do Terminal Rodoviário das Caldas da Rainha, encontramos um enorme conjunto de “Andorinhas”, sob o olhar atento de um “Gato Assanhado”, réplica agigantada de modelo de 1884 e exemplar por quem o mestre tinha um particular apreço. Na Rua Heróis da Grande Guerra, voltaremos a ter um “Gato a Caçar” e, não muito longe, uma belíssima “Vespa”, um conjunto de “Sardões” e, no largo fronteiro à Estação de Caminhos de Ferro, um elegante fontanário onde, sob uma profusão de repuxos de água, se banha um conjunto de rãs mais pequenas e uma “Rã Gigante”, no meio de delicados nenúfares. Uma chamada de atenção para os azulejos que revestem o fontanário, com influências Naturalistas, Renascentistas, Arte Nova e legado Hispano-Árabe.

Passa do meio-dia e a visita aproxima-se do fim, restando três peças para apreciar. Uma delas, pertencente ao grupo escultórico “O Lobo e o Grou” (uma alegoria à fábula de Esopo e La Fontaine), designa-se simplesmente “Lobo” e encontra-se por cima da entrada pedonal do parque subterrâneo. Aqui, na Praça 5 de Outubro, vale a pena atentar nos vários edifícios Arte Nova, no trabalho do ferro forjado que decora os varandins e, sobretudo, nos azulejos padrão e frisos das fachadas. A cerca de 200 metros, já na Rua Padre António Emílio e por trás da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, encontramos o “Padre Cura”, outra das figuras de movimento criadas pelo mestre. Para o final, propositadamente, deixamos o popular “Zé Povinho”, personagem criada por Rafael Bordalo Pinheiro em 1875 no jornal humorístico “A Lanterna Mágica”, caricatura do passivo povo português, abusado pelo poder e que, de mãos estendidas, aceita com resignação a sua sorte. Agora que a visita chega ao fim, percebe-se que três horas passaram num ápice. Foi uma visita de tal forma enriquecedora que a recomendamos a todos quantos nutrem pela história e pela arte um carinho especial. Mas as Caldas não se esgota em Bordalo, como já se percebeu. Um regresso impõe-se. “Caldas Histórica”, “Caldas Industrial” ou “Caldas à Mesa” são as propostas que se seguem. Com a Go Caldas, naturalmente!

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